UCRÂNIA - As autoridades ucranianas exumaram mais de 530 corpos de civis em territórios reconquistados às forças russas no nordeste do país desde o início da contraofensiva das suas forças armadas, anunciou esta quinta-feira a polícia de Kharkiv.
"Contámos e removemos nos territórios libertados os corpos de 534 civis, incluindo 226 mulheres, 260 homens, 19 crianças e 29 outras pessoas cujo sexo ainda não foi determinado", disse o chefe do departamento de investigação da polícia de Kharkiv, Serhiy Bolvinov, numa conferência de imprensa.
Bolvinov disse que estes números incluem os corpos exumados de uma floresta perto de Izium, onde foram encontradas cerca de 440 sepulturas não assinaladas após a partida dos russos em 16 de setembro.
As autoridades ucranianas dizem também ter encontrado dezenas de alegadas câmaras de tortura e centros de detenção onde os prisioneiros foram mantidos em condições desumanas.
A Polícia Nacional da Ucrânia disse, na quarta-feira, que está a investigar 928 alegados crimes de guerra cometidos por forças russas durante a sua ocupação da região de Kharkiv.
As forças russas foram acusadas de numerosos abusos nos territórios sob o seu controlo na Ucrânia, em particular em Bucha, arredores de Kiev, onde foram descobertos cadáveres de civis após a sua retirada da zona no final de março.
Moscovo negou ter cometido estes crimes e considerou uma mentira a descoberta de corpos em Izium.
Depois de ter recebido armamento ocidental, as tropas ucranianas iniciaram uma contraofensiva no final de agosto, que lhes permitiu recuperar algumas das zonas sob controlo de Moscovo.
Maior parte da região de Kharkiv sob controlo ucraniano
O exército ucraniano já recuperou a maior parte da região de Kharkiv, no nordeste, e está agora na ofensiva no leste do país, onde recentemente recapturou o nó ferroviário de Lyman, e no sul, onde tem como objetivo capturar a cidade de Kherson.
"As forças armadas ucranianas libertaram mais de 400 quilómetros quadrados da região de Kherson desde o início de outubro", disse esta quinta-feira a porta-voz do comando militar no sul, Natalia Gumeniuk, citada pela agência francesa AFP.
Kherson é uma das quatro regiões ucranianas que a Rússia anexou no final de setembro, no âmbito da sua invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro deste ano.
Além de Kherson, foram anexadas pela Rússia as regiões de Donetsk, Lugansk e Zaporijia, onde se situa a maior central nuclear da Europa.
O exército de Moscovo disse esta quinta-feira, no seu relatório diário, que "o inimigo foi afastado da linha de defesa das tropas russas" na região de Kherson.
Segundo Moscovo, as forças ucranianas destacaram quatro batalhões táticos para esta frente e "fizeram várias tentativas para romper as defesas russas" perto de Dudchany, Sukhanove, Sadok e Bruskinskoye.
As informações sobre o curso da guerra divulgadas pelas duas partes não podem ser verificadas de imediato de forma independente. A invasão russa da Ucrânia foi condenada pela generalidade da comunidade ocidental e os aliados ocidentais têm fornecido armamento às forças armadas ucranianas.
Lusa
MATÃO/SP - No Bairro Vila Cardim, próximo ao CAJU, em Matão, uma criança de 5 anos, fica gravemente ferida depois de ser atacada e mordida no rosto, por um cachorro.
A menina, de 5 anos de idade, que é espectro autista, ficou com um corte na face, de aproximadamente 7 centímetros.
Ela foi socorrida e encaminhada pelo SAMU, até o Pronto Socorro do Hospital Carlos Fernando Malzoni, onde precisou ficar sob observação médica, sendo liberada em seguida, se recuperando em casa.
Os motivos do ataque não foram informados. O proprietário do cão não foi localizado.
O caso foi registrado em boletim de ocorrência e será investigado.
Marcelo Bonholi / PORTAL MORADA
UCRÂNIA - Autoridades russas de ocupação no sul da Ucrânia pediram na terça-feira (4) que não cedam ao "pânico", embora as forças de Moscou tenham recuado diante de uma contraofensiva das tropas ucranianas na região de Kherson.
Desde o início de setembro, as forças ucranianas já infligiram uma série de reveses aos russos no nordeste e leste.
O governador da ocupação imposto pelas Rússia em Kherson, Vladimir Saldo, admitiu um "avanço" dos ucranianos, especificamente mencionando a perda do controle da cidade de Dudchany, embora tenha afirmado que a aviação russa freou as tropas de Kiev, segundo uma entrevista publicada na segunda-feira em seu canal do Telegram.
Seu adjunto Kirill Stremousov disse nas redes sociais nesta terça-feira que o avanço ucraniano foi contido e que não há que entrar em "pânico".
O canal russo Rybar, que acompanha os movimentos das tropas de Moscou, revelou que os ucranianos estão avançando em Arkhanguelske e Dudchany com o objetivo de "cortar o abastecimento dos grupos russos que estão na margem direita do rio Dnieper".
Segundo estimativas ocidentais e ucranianas, cerca de 20.000 soldados russos teriam sido mobilizados nesta área.
Nas últimas semanas, as forças ucranianas concentraram suas forças contra as posições e depósitos russos na margem direita do Dnieper e nas pontes deste rio para cortar as linhas de abastecimento.
- Novas cidades libertadas -
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou em seu discurso de segunda-feira à noite que "novas cidades foram libertadas em várias regiões".
"Cada vez mais os ocupantes procuram fugir, mais e mais perdas são infligidas ao inimigo", acrescentou.
Há dias, vídeos de soldados ucranianos levantando sua bandeira em cidades do norte da região de Kherson são publicados na Internet.
No início da invasão contra a Ucrânia, as tropas russas controlavam a cidade de Kherson, que é a única capital regional que conseguiram capturar. Estima-se que 80% da região esteja sob o controle dos russos.
Após uma série de contratempos no norte e no leste, o presidente russo Vladimir Putin decidiu anunciar a anexação de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, quatro regiões ucranianas que estão sob controle parcial da Rússia, e decretou a mobilização de centenas de milhares de reservistas.
No dia seguinte à cerimônia de oficialização da anexação, Zelensky anunciou que suas forças haviam retomado o controle de Lyman, um local estratégico por ser um importante nó ferroviário no leste da Ucrânia.
A mobilização de reservistas na Rússia desenvolveu-se de forma caótica, gerando críticas à convocação de pessoas que deveriam ter sido dispensadas por motivos de saúde ou familiares.
Além disso, essa convocação gerou protestos na Rússia e um êxodo de homens em idade de servir, o que levou dezenas de milhares de pessoas a fugir para países como Cazaquistão, Mongólia ou Finlândia.
- Mais de 200 mil soldados recrutados -
Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, elogiou o processo, afirmando que desde que a ordem de alistamento foi emitida no dia 21, mais de 200.000 soldados se juntaram ao exército.
"Até hoje, mais de 200.000 pessoas se alistaram no exército", disse Shoigu em uma reunião, citado por agências de notícias russas.
De acordo com Shoigu, as tropas mobilizadas estão sendo treinadas em cerca de 80 campos militares e seis centros de treinamento.
Putin, por sua vez, prometeu defender os territórios anexados, com a ameaça de até mesmo recorrer ao uso de armas nucleares e instando a Ucrânia a cessar os combates.
De sua parte, Zelensky respondeu na sexta-feira afirmando que não negociará com a Rússia enquanto Putin for presidente.
Enquanto isso, os ocidentais reiteraram seu compromisso de apoiar a Ucrânia, enviando armas e munições modernas que infligiram grandes perdas às forças russas.
UCRÂNIA - A Ucrânia parece estar a caminho de alcançar vários de seus principais objetivos no campo de batalha, à medida em que Kiev avança para fortalecer sua posição militar contra a Rússia antes da chegada do inverno, disse uma alta funcionária do Pentágono nesta segunda-feira.
A avaliação otimista de Celeste Wallander, secretária assistente de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional, veio no mesmo dia em que as forças ucranianas alcançaram seu maior avanço no sul do país desde o início da guerra.
As tropas ucranianas atravessaram as linhas russas e avançaram rapidamente ao longo do rio Dnipro, ameaçando as linhas de abastecimento de milhares de tropas russas.
Wallander destacou os últimos esforços em andamento na região sul de Kherson, como os sucessos recentes em Kharkiv e Donetsk.
"A Ucrânia parece estar no caminho certo para alcançar esses três objetivos agora", disse Wallander ao Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank de Washington.
Um oficial militar dos EUA, informando repórteres do Pentágono sob condição de anonimato, disse, no entanto, que Washington - que está armando e aconselhando os militares da Ucrânia - ainda não viu um reforço russo em grande escala de suas tropas na Ucrânia.
"Em termos gerais, vimos números relativamente pequenos (de reforços russos)... mas nada de grande escala nesta fase do jogo", disse o funcionário.
Kiev deu poucas informações sobre seus últimos ganhos no sul, mas fontes russas reconheceram que uma ofensiva de tanques ucranianos avançou dezenas de quilômetros ao longo da margem oeste do rio, recapturando várias aldeias ao longo do caminho.
"O objetivo da Ucrânia é empurrar para trás a cabeça de ponte russa na margem ocidental do Dnipro em Kherson", explicou Wallander.
Isso, segundo ela, representaria "uma grande derrota para a Rússia".
"Porque isso afasta ainda mais a ambição da Rússia de tomar Odessa, que era um dos objetivos declarados no início deste ano", disse Wallander.
"Fica muito mais difícil e dá à Ucrânia uma posição defensiva muito melhor para enfrentar o que provavelmente será uma contenção dos combates quentes durante o inverno".
Phil Stewart; reportagem adicional de Tom Balmforth / REUTERS
UCRÂNIA - As forças ucranianas alcançaram seu maior avanço no sul do país desde o início da guerra, rompendo a linha de frente e avançando rapidamente ao longo do rio Dnipro, nesta segunda-feira, ameaçando cercar milhares de soldados russos.
Kiev não confirmou os ganhos de forma oficial, mas fontes russas reconheceram que uma ofensiva de tanques ucranianos avançou dezenas de quilômetros ao longo da margem oeste do rio, recapturando vários vilarejos pelo caminho.
O avanço reflete os recentes sucessos ucranianos no leste que mudaram a maré na guerra contra a Rússia, mesmo quando Moscou tenta aumentar as apostas anexando território, ordenando mobilização e ameaçando retaliação nuclear.
"A informação é tensa, vamos colocar dessa forma, porque, sim, houve de fato avanços", disse Vladimir Saldo, líder instalado pela Rússia em partes ocupadas da província de Kherson, na Ucrânia, à televisão estatal russa.
"Há um assentamento chamado Dudchany, bem ao longo do rio Dnipro, e ali mesmo, naquela região, houve um avanço. Há assentamentos ocupados por forças ucranianas", afirmou ele.
Dudchany fica cerca de 40 km ao sul de onde o front estava apenas um dia antes, indicando um dos avanços mais rápidos da guerra e de longe o mais rápido no sul, onde as forças russas foram colocadas em posições fortemente reforçadas ao longo de uma linha de frente em grande parte estática desde as primeiras semanas da invasão.
Embora Kiev tenha mantido um silêncio quase completo, como no passado durante grandes ofensivas, algumas autoridades descreveram o que chamaram de relatos não confirmados de ganhos.
Anton Gerashchenko, assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, postou uma foto de soldados ucranianos posando com sua bandeira cobrindo uma estátua dourada de um anjo. Ele disse que era a vila de Mikhailivka, cerca de 20 km além do front anterior.
O avanço no sul reflete as táticas que trouxeram grandes ganhos a Kiev desde o início de setembro no leste da Ucrânia, onde suas forças rapidamente tomaram território para ganhar o controle das linhas de suprimentos russas e forçando soldados a recuar.
Poucas horas depois de um show na Praça Vermelha de Moscou na sexta-feira, onde o presidente russo Vladimir Putin proclamou as províncias de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia como território russo para sempre, a Ucrânia recapturou Lyman, o principal bastião russo no norte da província de Donetsk.
Isso abre caminho para avançar profundamente na província de Luhansk, ameaçando as principais rotas de abastecimento para o território que Moscou capturou em algumas das batalhas mais sangrentas da guerra em junho e julho.
Por Tom Balmforth / REUTERS
RÚSSIA - O Kremlin disse nesta sexta-feira que ataques contra qualquer parte da faixa da Ucrânia que o presidente Vladimir Putin está prestes a anexar serão considerados agressões contra a própria Rússia, acrescentando que a Rússia lutará para tomar a totalidade da região de Donbas, no leste ucraniano.
O presidente Vladimir Putin deve proclamar a anexação de quase um quinto da Ucrânia nesta sexta-feira, intensificando sua guerra de sete meses e levando-a a uma nova fase imprevisível.
Moscou está declarando que as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, em grande parte ou parcialmente ocupadas por forças russas ou apoiadas pela Rússia, fazem parte da Rússia.
Questionado por repórteres se um ataque da Ucrânia aos territórios que a Rússia reivindica como sua terra seria considerado um ataque à Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: "Não seria outra coisa".
Putin afirmou na semana passada que estava disposto a usar armas nucleares para defender a "integridade territorial" da Rússia.
A Rússia está agindo para anexar as regiões depois de realizar o que chamou de referendos nas áreas ocupadas da Ucrânia. Governos ocidentais e Kiev disseram que as votações organizadas às pressas violam a lei internacional e são coercitivas e não representativas.
(Reportagem da Reuters)
Filas de russos que tentam escapar à mobilização militar continuam a entupir as estradas para fora do país.
RÚSSIA - As longas filas de russos que procuram escapar à mobilização militar continuavam na quarta-feira a 'entupir' as estradas para fora do país, enquanto Moscovo terá estabelecido gabinetes de recrutamento nas fronteiras, para interceptar alguns destes.
A Ossétia do Norte, região russa que faz fronteira com a Geórgia, decretou estado de "alerta máximo" e anunciou que comida, água, equipamentos de aquecimento e outras ajudas devem ser trazidas para aqueles que passam dias em filas.
No outro lado da fronteira, na Geórgia, voluntários também estão a mobilizar água, cobertores e outros tipos de assistência.
Aquela região russa restringiu a entrada de muitos carros de passageiros no seu território e montou um gabinete de recrutamento na fronteira de Verkhy Lars, referiram agências de notícias russas.
10 mil russos em fuga por dia
De acordo com o Ministério do Interior da Geórgia, cerca de 10.000 cidadãos russos estão a atravessar diariamente a fronteira.
Alguns meios de comunicação divulgaram fotos junto à fronteira, onde era visível uma carrinha preta com as palavras: gabinete de alistamento militar.
Outro gabinete deste género foi estabelecido no lado russo junto à fronteira com a Finlândia, segundo a agência de notícias russa independente Meduza.
O anúncio de Moscovo da mobilização de 300 mil reservistas, feito na semana passada, está a desencadear o êxodo de um grande número de homens russos em idade militar que se recusam a lutar na Ucrânia, alvo de uma ofensiva militar russa desde fevereiro passado.
Embora o Presidente russo, Vladimir Putin, tenha anunciado em 21 de setembro uma mobilização "parcial", muitos russos temem que seja muito mais amplo e arbitrário.
Homens sem formação militar
Na Rússia surgem inúmeros relatos de homens sem formação militar e de todas as idades a receberem avisos para serem mobilizados.
Aleksandr Kamisentsev, que deixou a sua casa em Saratov e fugiu para a Geórgia, descreveu a situação no lado russo da fronteira como "muito assustadora".
“É tudo muito assustador, lágrimas, gritos, um grande número de pessoas. Há um sentimento de que o governo não sabe como organizá-lo. Parece que eles querem fechar a fronteira, mas ao mesmo tempo têm medo de que os protestos aconteçam e deixam as pessoas saírem”.
Manifestantes munidos de bandeiras georgianas e ucranianas e cartazes como "Russia Kills" [Rússia Mata, em português] saudaram os russos na fronteira esta quarta-feira.
Os russos têm atravessado a fronteira de carro, mota, bicicleta ou a pé. Também há longas filas na fronteira com o Cazaquistão, que recebeu mais de 98 mil russos desde a semana passada. A Rússia tem fronteiras terrestres com 14 países.
LUSA
RÚSSIA - A Rússia elevou ainda mais o grau de ameaça nuclear na Guerra da Ucrânia na terça-feira (27), afirmando pela primeira vez com todas as letras que pode atacar o país vizinho com a bomba atômica, "se for forçada".
As palavras, como sempre, partiram de um aliado linha-dura de Vladimir Putin, Dmitri Medvedev, presidente da Rússia de 2008 a 2012 e protegido do chefe que agora é número 2 dele no Conselho de Segurança.
Em seu canal no Telegram, Medvedev foi explícito sobre o emprego de artefatos nucleares contra a Ucrânia algo antes apenas sugerido por ele e pelo próprio Putin não contra o vizinho, mas contra forças externas que interviessem de forma mais decisiva na guerra iniciada por Moscou em fevereiro.
"Vamos imaginar que a Rússia seja forçada a usar a mais assustadora arma contra o regime ucraniano, que cometeu atos de agressão de larga escala que são perigosos para a própria existência do nosso Estado", disse.
"Eu acredito que a Otan [aliança militar ocidental] não vai interferir diretamente no conflito mesmo nesse cenário. Os demagogos do outro lado do oceano e na Europa não vão morrer num apocalipse nuclear."
O cenário descrito por Medvedev é exposto após os Estados Unidos fazerem suas próprias ameaças em resposta à fala da semana passada de Putin, quando anunciou a mobilização de 300 mil reservistas enquanto promove a anexação de território ocupado na Ucrânia. O movimento visou conter a crise na campanha russa, após a perda de áreas no nordeste do vizinho para Kiev.
O presidente sugeriu que um ataque às novas terras que considera suas será considerado uma ação contra a soberania russa. Dentro da doutrina nuclear do Kremlin, isso ensejaria a resposta com armas nucleares, mesmo que a Rússia seja vítima de um ataque feito com armamento convencional. Putin já vinha fazendo ameaças atômicas desde o início da guerra.
O que Medvedev fez foi dar nome aos bois, repetindo que "certamente isso não é um blefe", como Putin já afirmara. No domingo (25), o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, havia dito que deixou explícito ao Kremlin que o emprego da bomba teria consequências "horríveis" ou seja, retaliação nuclear.
Na segunda (26), o Ministério da Defesa da Rússia fez sua parte no show e divulgou um exercício com parte da frota de bombardeiros estratégicos Tu-160, que podem empregar armas nucleares, com reabastecimento aéreo e testes de prontidão.
Por óbvio, tanto Medvedev quanto Putin blefam um tanto ao falar de apocalipse, já que na origem do conceito de um ataque nuclear está a ideia de que você não o anuncia, justamente para ter alguma janela de tempo e evitar um contra-ataque letal.
Mas suas falas abrem a possibilidade preocupante de preparar terreno para o emprego de armas nucleares táticas, aquelas de menor poder destrutivo e capacidade de contaminar o ambiente, para vencer batalhas contra alvos militares. As especulações apocalípticas são para as bombas estratégicas, aquelas que obliteram cidades inteiras, visando acabar com guerras.
O problema apontado por especialistas é a fronteira entre o uso de uma e de outra arma, algo que não está na doutrina militar russa ou americana. Uma escalada imprevisível é a primeira opção na mesa.
Mesmo o uso de bombas táticas é controverso, pois depende muito do terreno para ter eficácia sem exigir muitas detonações aí sim amplificando o risco de desastre ambiental. Bombas táticas têm capacidade destrutiva variável, usualmente em torno de 5 quilotons, um terço da potência da ogiva lançada sobre Hiroshima em 1945.
Mas há modelos com um décimo disso, acomodáveis em maletas. Pensando num conflito centrado na Europa na Guerra Fria, a URSS acumulou um arsenal que especialistas creem ser de até 2.000 bombas táticas, ante 200 americanas. Só que isso não é controlado por acordos, então ninguém sabe exatamente.
Já as armas estratégicas são reguladas, com cerca de 1.600 para cada lado signatário do tratado Novo Start, ironicamente assinado pelos russos por Medvedev em 2009. EUA e Rússia controlam 90% do arsenal nuclear do mundo.
IGOR GIELOW / FOLHA de S. PAULO
UCRÂNIA - A Ucrânia anunciou, na segunda-feira (26), que está investigando uma suposta vala comum no nordeste do país, perto da fronteira russa, dez dias depois da descoberta de mais de 440 sepulturas e de uma vala comum na mesma região.
O local onde está localizada a suposta vala comum é uma fazenda industrial, que fica perto da cidade de Kozacha Lopan, a menos de três quilômetros da fronteira com a Rússia.
Durante a ocupação russa da região nos últimos meses, o Exército russo escondeu seus tanques lá.
Autoridades ucranianas disseram nesta segunda-feira que encontraram "até 100 corpos", sem dar mais detalhes.
No domingo (25), o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse ao canal americano CBS News que "mais duas valas comuns, grandes valas comuns, com centenas de pessoas", foram encontradas enterradas, mas não disse onde.
No início de setembro, as tropas ucranianas lançaram uma contraofensiva, com a qual recuperaram grandes extensões de território nesta região.
A suposta vala comum permanece, contudo, ao alcance do fogo da artilharia russa. Além disso, as equipes ucranianas ainda trabalham na desminagem, o que impossibilita que as equipes científicas realizem buscas neste momento.
De acordo com Lyudmila Vakulenko, chefe da administração local de Kozacha Lopan, o Exército ucraniano fez uma primeira tentativa de recuperar a cidade dos russos em abril, mas falhou.
Após a libertação da cidade, "os militares me disseram que tinham visto um local onde os soldados eram enterrados, mas não me disseram quantas" sepulturas havia, disse Vakulenko, nesta segunda-feira.
As autoridades ucranianas suspeitam de que tropas russas tenham enterrado soldados e civis ucranianos e russos lá.
Em meados de setembro, as autoridades ucranianas encontraram mais de 440 sepulturas e uma vala comum perto de Izium, em uma floresta de pinheiros nos arredores desta cidade do nordeste reconquistada por Kiev.
Desde o início de sua intervenção militar na Ucrânia, a Rússia negou repetidamente que suas tropas tivessem cometido quaisquer abusos. O Kremlin chamou a descoberta de centenas de túmulos em Izium de "mentiras".
RÚSSIA - Os referendos de anexação pela Rússia começaram na sexta-feira (23) em regiões da Ucrânia controladas total ou parcialmente por Moscou, num processo denunciado por Kiev e o Ocidente. As votações, consideradas um “simulacro” pelo governo ucraniano, são o prenúncio de uma provável escalada do conflito.
Os referendos começaram às 7h no horário local e poderão ser realizados até 27 de setembro nas regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk (leste), e em áreas sob ocupação russa nas regiões de Kherson e Zaporíjia (sul). As votações são idealizadas há meses por Moscou, mas o calendário parece ter sido acelerado após a contra-ofensiva ucraniana, que obrigou o Exército russo a recuar no nordeste do país.
As consultas populares foram anunciadas pelo presidente Vladimir Putin no início da semana, que chegou a ameaçar com ataques nucleares para defender o que considera ser territórios russos.
De antemão, não há qualquer dúvida sobre o resultado destes referendos, organizados às pressas. O pleito foi criticado com veemência pelo governo ucraniano e seus apoiadores ocidentais, que acusam Moscou de repetir a estratégia utilizada na península da Crimeia em 2014, para assumir o controle de faixas inteiras de território ucraniano.
"Realizar este referendo é um passo histórico. Estamos voltando para casa", celebrou o líder da região separatista pró-Rússia de Donetsk, Denis Pushilin, em um vídeo publicado na manhã de sexta-feira no Telegram.
Os separatistas encarregados dos procedimentos eleitorais em Donetsk indicaram que, "por razões de segurança", já que os combates permanecem, a votação seria organizada principalmente de porta em porta durante quatro dias. As seções de votação abrirão "apenas no último dia", ou seja, em setembro 27.
Serão 450 e 461 seções nas regiões de Donetsk e Lugansk, respectivamente, 394 em Zaporíjia e 198 em Kherson. Vários locais de votação também foram abertos na Rússia para permitir o voto de "refugiados" que fugiram dos combates, segundo agências de notícias russas.
Aceleração dos planos
Os moradores das regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk, que já declararam "independência", devem decidir se querem ou não fazer parte da Rússia. Já em Kherson e Zaporíjia, parcialmente ocupadas pelas forças russas, a pergunta feita é: "Você quer se separar da Ucrânia, criar estados independentes e se tornar parte da Rússia?"
O presidente da câmara baixa do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, exortou na sexta-feira seus "compatriotas" – os pró-russos da Ucrânia – a "escolher integrar a Rússia". "Nós vamos apoiá-los", disse.
Mesmo que a anexação dessas quatro áreas não seja reconhecida pela comunidade internacional, ela marcará um ponto de virada na ofensiva que a Rússia lidera na Ucrânia desde 24 de fevereiro. Na quarta-feira, o presidente Vladimir Putin decretou uma mobilização parcial de russos em idade de combate, que envolverá pelo menos 300 mil pessoas.
Acusando os ocidentais de querer "destruir" a Rússia, Putin também ameaçou usar "todos os meios", incluindo os nucleares – declarações que foram fortemente condenadas pelos Estados Unidos e a União Europeia.
"Combustível no fogo"
Até a China, próxima de Moscou, tomou distância da Rússia após o anúncio dos referendos, pedindo “respeito à integridade territorial dos Estados”. A Rússia também se viu isolada no Conselho de Segurança da ONU, onde o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, liderou acusações nesta quinta-feira.
"O fato de o presidente Putin ter escolhido esta semana, quando a maioria dos líderes mundiais se reúne na ONU, para adicionar combustível ao fogo que ele começou demonstra seu total desrespeito à Carta da ONU", disse Blinken, que se recusou a se encontrar com seu colega russo, Sergei Lavrov.
"A ordem internacional que tentamos salvar aqui está sendo destruída diante de nossos olhos. Não podemos deixar o presidente Putin se safar", adicionou ele, na reunião convocada pela presidência francesa.
Lavrov, presente na sala do conselho, onde também discursou, não estava sentado na mesma mesa dos demais ministros, sendo substituído por um deputado.
(Com informações da AFP)
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