- 'Sem precedentes' -
O composto, chamado de JNJ-A07, mostrou efeitos "sem precedentes em animais infectados", comentou à AFP Johan Neyts, professor de virologia da Universidade de Leuven, na Bélgica, que fez parte do estudo.
"Mesmo se o tratamento for iniciado no pico de replicação viral, há uma atividade antiviral significativa", acrescentou.
O JNJ-A07 age sobre a interação entre duas proteínas no vírus da dengue, que são fundamentais para a sua replicação. Testes em células, tanto humanas quanto de mosquitos, mostraram que o composto foi efetivo contra as quatro variantes.
Além disso, como o vírus evolui rapidamente, os especialistas avaliaram como o composto JNJ-A07 se sairia na medida em que o vírus sofresse mutações.
"Em células infectadas em laboratório, levou quase seis meses até que pudéssemos obter uma resistência importante [ao tratamento]", disse Neyts. "Dado que a barreira à resistência é tão alta, é muito improvável que isso se torne um problema clínico", acrescentou.
Curiosamente, as mutações que causaram resistência também pareciam tornar o vírus incapaz de se replicar nas células do mosquito. Isso poderia sugerir que, mesmo que o vírus desenvolvesse resistência ao JNJ-A07, ele não seria mais transmissível por mosquitos.
- Exames clínicos em progresso -
Segundo Neyts, a versão do composto reportada na Nature foi "otimizada" e está em desenvolvimento clínico pelo laboratório Johnson & Johnson. No entanto, muitos questionamentos ainda pairam sobre o JNJ-A07, especialmente se ele poderia aumentar a vulnerabilidade à reinfecção.
Segundo Biering e Harris, dado que o JNJ-A07 age para reduzir a viremia, que é a presença do vírus no sangue, são necessários mais estudos para determinar se o tratamento pode deixar as pessoas mais suscetíveis a contraírem dengue hemorrágica.
Apesar disso, Neyts acredita que o estudo traz possibilidades interessantes. "Ver o composto agindo de forma tão potente em animais foi de tirar o fôlego", frisou.
*Por: AFP