CHINA - China não está acostumada com crescimento de um dígito. Nem muito menos com desempenho de zero vírgula alguma coisa. Mas essa é a realidade do país hoje. Com sua economia contaminada pelos problemas internos e pelas as turbulências globais – leia-se inflação, guerra e pandemia –, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo país mais rico do mundo cresceu somente 0,4% no segundo trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Departamento Nacional de Estatísticas. É trágico. Trata-se do pior desempenho desde o início da série histórica, em 1992. O resultado do período ficou abaixo das piores previsões dos economistas, que apostavam em crescimento de 1%, no mínimo.
No mercado de games, em que a China se tornou o maior expoente mundial, a receita do primeiro semestre caiu pela primeira vez desde que os dados foram disponibilizados há 14 anos. O maior mercado no setor do mundo tem sido fortemente impactado por intensa atividade de regulação pelo governo. A receita combinada do setor caiu 1,8%, para 147,7 bilhões de iuans (US$ 21,8 bilhões) nos seis meses encerrados em junho, de acordo com um relatório publicado na quinta-feira (21) pela China Audio-Video and Digital Publishing Association.
E isso afeta o Brasil e o mundo? Muito. Como locomotiva da indústria mundial, a China é um trem quase parando. Em alguns casos, como ocorre com a mineração brasileira, chineses lentos significam poucos negócios pela frente. Segundo Paulo Rezende, que é economista e professor de Comércio Exterior, com menos demanda por insumos como minério de ferro, grãos e petróleo, as empresas devem exportar menos para lá e, no melhor dos casos, terá de negociar ainda mais seus contratos. “Poucas notícias são tão ruins para a economia brasileira quanto a desaceleração chinesa”, afirmou. “O impacto sobre as empresas exportadoras é até maior do que temas como inflação, juros e guerra.”
O problema é que, além do baixíssimo crescimento, a dificuldade em fazer sua economia deslanchar deve perdurar por alguns meses ou anos – o que aprofunda a crise em uma nação de 1,4 bilhão de pessoas. Pelos cálculos do Banco Mundial, a China precisa crescer a um ritmo de 4,8% apenas para ficar no zero a zero no mercado de trabalho, e absorver a mão de obra que se forma ou que migra do campo para as cidades todos os anos.
E o tema da desocupação dos trabalhadores preocupa o governo de Pequim. O desemprego está próximo dos níveis mais altos já registrados. Segundo o departamento de estatísticas, o índice entre os jovens aumentou para 19,3%. O mercado imobiliário também não se recuperou, e as pequenas empresas arcam com o peso da fraqueza nos gastos do consumidor. As vendas no varejo, um indicador de quanto os consumidores estão gastando, caíram 4,6% em relação ao ano anterior, de abril a junho, segundo o governo.
Na avaliação de Kenneth Rogoff, professor de economia da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, a China deve demorar até uma década para restaurar a performance de crescimento de antes da pandemia. A economia chinesa, diz ele, deixou de ser o motor do crescimento internacional e os fundamentos de longo prazo não sinalizam que o cenário vai mudar em curto prazo. E alguns sinais disso já são sentidos pelas empresas chinesas.
4,8% é quanto a china precisa crescer ao ano só para atender quem entra no mercado de trabalho
Além das paralisações causadas pelo rígido lockdown imposto pelo governo a cidades importantes da China neste ano, que tiveram aumento vertiginoso de contaminação e mortes, a bola de aço presa ao calcanhar do PIB é a construção civil. No ano passado, o mercado imobiliário respondeu por 26% do produto interno bruto, o que gerou alta de preços e especulação de investidores. O contra-ataque do governo, agora, pode ter sido exagerado. As medidas para limitar a alta dos preços empurram o setor ao endividamento e a cortes das margens de lucro, segundo Rogoff. Com isso, aumentam os riscos de estagflação.
Outro golpe aplicado pelo governo no dia 21 foi uma multa de 8 bilhões de yuans (US$ 1,2 bilhão) à gigante do transporte Didi por violação da política de proteção de dados. A investigação de um ano encontrou “evidências conclusivas” de que Didi cometeu violações “de natureza flagrante”, informou a Administração do Ciberespaço da China.
ESTÍMULOS
Enquanto o país tenta se reerguer, na última semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçou a necessidade de o governo chinês elevar seus pacotes de estímulo financeiro para aquecer a indústria local e puxar o comércio exterior, em meio a um cenário de guerra na Ucrânia, risco de desabastecimento de gás russo na Europa e juros em alta no mundo todo, o cenário mais delicada das últimas décadas.
Segundo a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, a guerra na Ucrânia vai provocar uma redução na previsão para o crescimento de 143 economias neste ano. Juntas, essas nações respondem por 86% do PIB global. “Se o mundo cresce menos, economias fortes como a da China precisam ajudar a reequilibrar o crescimento em médio e longo prazo.”
Jaqueline Mendes / ISTOÉ DINHEIRO
SEUL - A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, pedirá nesta terça-feira laços comerciais mais profundos entre aliados para fortalecer suas cadeias de suprimentos, combater a inflação e frustrar as "práticas comerciais desleais" da China e seus esforços para dominar os principais mercados de matérias-primas e tecnologias.
Yellen fará os comentários em um discurso em Seul após visitar as instalações da gigante da tecnologia sul-coreana LG Corp. durante a etapa final de sua visita de 11 dias à região.
"Nós não podemos permitir que países como a China usem sua posição de mercado em matérias-primas, tecnologias ou produtos importantes para desestabilizar nossa economia e exercer influência geopolítica indesejada", dirá Yellen, segundo trechos divulgados pelo Departamento do Tesouro.
Em vez disso, Yellen dirá, os Estados Unidos e aliados como a Coreia do Sul devem se concentrar em diversificar suas cadeias de suprimentos para depender mais de parceiros comerciais confiáveis, fortalecendo a resiliência econômica e reduzindo os riscos.
De acordo com os trechos das declarações, Yellen dirá que isso sustentaria o dinamismo e o crescimento da produtividade que acompanham a integração econômica, ao mesmo tempo em que ajudaria a isolar os cidadãos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul dos aumentos de preços causados por riscos geopolíticos.
As potências ocidentais correram para acabar com sua dependência excessiva da China como principal fornecedor desde o início da pandemia da Covid-19, que expôs a fragilidade das cadeias de suprimentos globais e expôs lacunas nas capacidades domésticas em setores-chave.
Yellen dirá que a pandemia e a guerra da Rússia na Ucrânia - ações que Moscou chama de "uma operação militar especial" - deixaram clara a necessidade de abordar as vulnerabilidades da cadeia de suprimentos e trabalhar para reduzir os congestionamentos e a escassez que elevaram os preços em todo o mundo.
Reportagem de Andrea Shalal / REUTERS
LONDRES - Os chefes dos serviços de segurança do Reino Unido e dos Estados Unidos fizeram uma declaração conjunta inédita em Londres na quarta-feira (6/7) para alertar sobre a "ameaça imensa" que a China representa no mundo.
O diretor da agência americana FBI, Christopher Wray, disse que a China é a "maior ameaça de longo prazo à nossa segurança econômica e nacional" e que Pequim "interferiu na política" dos EUA, incluindo em eleições recentes.
O chefe do serviço britânico de inteligência MI5, Ken McCallum, disse que nos últimos três anos a sua agência dobrou a quantidade de trabalho que realiza contra a atividade chinesa — e que pretende dobrar novamente os esforços.
O MI5 diz estar realizando sete vezes mais investigações relacionadas às atividades do Partido Comunista Chinês em comparação com 2018, segundo McCallum.
Wray, do FBI, alertou que, se a China tomasse Taiwan à força, isso "representaria uma das mais terríveis interrupções en negócios que o mundo já viu".
Esta foi a primeira aparição pública conjunta dos dois diretores. Ela ocorreu na sede do MI5 em Londres.
McCallum afirmou que o Partido Comunista Chinês hoje provocou uma grande virada nos desafios de inteligência do Reino Unido. Wray disse que a China representa um desafio "imenso" e "arrebatador".
Wray alertou o público presente na apresentação — que incluía executivos-chefes de empresas e figuras de alto escalão de universidades — que o governo chinês está "determinado a roubar sua tecnologia" usando diversas ferramentas.
Ele disse que isso representa "uma ameaça muito mais grave a empresas ocidentais do que muitos empresários sofisticados percebem". Ele citou casos em que pessoas ligadas a empresas chinesas nas áreas rurais dos EUA estariam desenterrando sementes geneticamente modificadas — uma tecnologia que custaria bilhões de dólares e quase uma década para a China conseguir desenvolver.
Ele também disse que a China implantou espionagem cibernética para "enganar e roubar em grande escala", com um programa de hackers maior do que o de todos os outros grandes países somados.
O chefe do MI5 disse que a inteligência sobre ameaças cibernéticas foi compartilhada com 37 países e que em maio um ataque sofisticado contra o setor aeroespacial foi interrompida.
McCallum também apontou uma série de exemplos ligados à China. Entre eles, um especialista em aviação britânico que recebeu uma proposta pela internet de uma atraente oportunidade de emprego. Ele viajou para a China duas vezes para "beber e jantar" antes de ser solicitado a fornecer informações técnicas sobre aeronaves militares por uma empresa que na verdade era uma fachada para oficiais de inteligência chineses.
"Foi aí que entramos", disse McCallum. Ele também disse que a empresa de engenharia Smith's Harlow foi abordada por uma empresa chinesa que conseguiu roubar a sua tecnologia, forçando a companhia britânica a pedir falência em 2020.
Ele citou o alerta de interferência emitido pelo Parlamento em janeiro sobre as atividades de Christine Lee, dona de um escritório de advocacia que trabalhava em prol das relações entre Reino Unido e China, e chegou a ser recebida por premiês britânicos. Ela foi acusada por um relatório do MI5 de tentar influenciar políticos britânicos para favorecer a China.
McCallum disse que esse tipo de operação visa amplificar as vozes do partido comunista pró-chinês e silenciar aqueles que questionam sua autoridade. "Isso precisa ser enfrentado", disse o diretor do MI5.
Nos EUA, o diretor do FBI disse que o governo chinês interferiu diretamente em uma eleição para o Congresso em Nova York porque queria barrar um candidato que protestou na Praça da Paz Celestial em 1989.
A China fez isso, segundo o FBI, contratando um detetive particular para buscar informações negativas sobre o candidato. Wray afirma que nada foi encontrado e que houve então um esforço para se fabricar uma polêmica envolvendo uma prostituta e que se cogitou até mesmo encenar um acidente de carro.
Wray disse que a China está aprendendo "todo tipo de lição" do conflito na Ucrânia. Isso incluiu tentar se proteger de sanções futuras como as que atingiram a Rússia. Se a China invadir Taiwan, a ruptura econômica seria muito maior do que a observada com os russos, disse ele. Segundo Wray, os investimentos de grandes potências europeias e dos EUA na China se tornariam "reféns" do governo de Pequim, e as cadeias de suprimentos seriam interrompidas.
"Eu não tenho nenhum motivo para pensar que o interesse deles em Taiwan diminuiu de alguma forma", disse o diretor do FBI a jornalistas após o discurso.
O diretor do MI5 disse que novas leis podem ajudar a lidar com a ameaça chinesa, mas que o Reino Unido também precisa se tornar um "alvo mais difícil", garantindo que todas as partes da sociedade estejam mais cientes dos riscos envolvidos. Ele disse que uma recente reforma do sistema de vistos obrigou mais de 50 estudantes ligados às Forças Armadas da China a deixarem o Reino Unido.
"A China acreditou por muito tempo que era a segunda maior prioridade de todos", disse Wray. "Eles não estão mais passando desapercebidos".
- O texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62076576
CHINA - Dezenas de milhões de pessoas entraram em confinamento nesta quarta-feira (6) na China, onde o comércio em uma cidade turística foi obrigado a fechar as portas depois da detecção de novos focos de contágio de covid-19, o que provoca o temor de mais restrições.
Autoridades de saúde anunciaram mais de 300 casos da doença nesta quarta-feira, com focos na cidade de Xi'an (norte), lar dos Guerreiros de Terracota, assim como em Xangai, a maior cidade do país.
Em Xangai, alguns moradores relataram nas redes sociais que receberam porções de alimentos do governo, como aconteceu há alguns meses durante um um confinamento prolongado.
"Deixe-me contar uma história de medo: o distrito de Putuo está enviando legumes de novo", postou um morador na rede WeChat.
"Estou muito nervoso, a epidemia destruiu minha juventude. Vou enlouquecer", escreveu outro morador de Xangai na rede Weibo.
As autoridades iniciaram uma nova série de testes em larga escala em metade dos distritos de Xangai após o aumento de casos desde o fim de semana. Nesta quarta-feira ordenaram o fechamento dos bares de karaokê após a detecção de alguns contágios originários destes locais.
E Xi'an, uma cidade histórica de 13 milhões de habitantes que enfrentou um mês de confinamento no fim do ano passado, foi colocada sob "medidas temporárias de controle" após a detecção de 29 contágios desde sábado.
Locais de entretenimento, incluindo pubs, cafés e bares de karaokê, foram fechados a partir da meia-noite de quarta-feira, informou o governo local.
A imprensa estatal divulgou imagens dos moradores de Xi'an em filas para testes após meia-noite, ao mesmo tempo que insistiu que a cidade não está em confinamento.
As autoridades atribuíram o surto na cidade à subvariante BA.5.2 da ômicron, que é mais transmissível e escapa da imunidade.
"Os casos positivos são todos do ramo BA.5.2 da variante ômicron. Um trabalho de rastreamento epidemiológico está em andamento", disse Ma Chaofent, do Departamento de Saúde de Xi'an, em entrevista coletiva.
Os novos casos são um desafio para o presidente Xi Jinping, que na semana passada reafirmou o compromisso com a estratégia chinesa de 'covid zero', apesar do crescente custo econômico.
EUA - Funcionários alto escalão dos governos dos Estados Unidos e da China participaram nesta terça-feira (5) em um diálogo "sincero" por videoconferência para discutir os desafios econômicos globais "severos", em particular a respeito da cadeia de abastecimentos.
A conversa entre a secretária americana do Tesouro, Janet Yellen, e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, aconteceu no momento em que presidente Joe Biden examina a possibilidade de suspender algumas tarifas sobre as importações chinesas para ajudar a conter a inflação.
"As duas partes concordaram que, diante dos severos desafios enfrentados pela economia mundial, é de grande importância fortalecer a comunicação macropolítica e a coordenação entre a China e os Estados Unidos", afirmou a agência oficial chinesa Xinhua.
A agência acrescentou que “manter a estabilidade da indústria global e das cadeias de abastecimento é do interesse dos dois países e de todo o mundo".
Segundo a Xinhua, a videoconferência aconteceu a pedido dos Estados Unidos e a conversa foi considerada "construtiva".
Yellen e Liu "discutiram os desenvolvimentos macroeconômicos e financeiros nos Estados Unidos e na China, as perspectivas econômicas globais em meio ao aumento dos preços das commodities e os desafios da segurança alimentar", afirmou o Departamento do Tesouro americano em um comunicado.
"A secretária Yellen levantou temas de preocupação, como o impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia sobre a economia global e as práticas econômicas injustas (chinesas)", acrescenta a nota.
A China se negou a condenar a invasão russa da Ucrânia e foi acusada de fornecer cobertura diplomática para Moscou ao criticar as sanções ocidentais e vendas de armas para Kiev.
Estados Unidos enfrentam a inflação mais elevada em 40 anos e o governo busca formas de aliviar a pressão sobre os preços.
Uma opção cogitada é suspender algumas das tarifas comerciais impostas a Pequim pela administração do ex-presidente Donald Trump.
Uma decisão sobre o tema pode acontecer no vencimento das tarifas a partir de 6 de julho, caso não sejam renovadas.
Na conversa com Yellen, Pequim "expressou preocupação sobre temas como a suspensão das tarifas contra a China e sanções da parte americana EUA", segundo a Xinhua.
Um contato entre os presidentes Biden e Xi Jinping é esperado para as próximas semanas.
CHINA - A Tesla entregou 17,9% menos veículos elétricos no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior, uma vez que a paralisação relacionada à Covid-19 da China interrompeu sua produção e cadeia de suprimentos.
A maior fabricante de carros elétricos do mundo disse que entregou 254.695 veículos no período de abril a junho, em comparação com 310.048 veículos no trimestre anterior, encerrando um período de quase dois anos de entregas trimestrais recordes.
O ressurgimento de casos de Covid-19 na China forçou a Tesla a suspender temporariamente a produção em sua fábrica em Xangai e também afetou as instalações de fornecedores no país.
A Tesla está aumentando a produção na fábrica de Xangai com a flexibilização do lockdown contra a Covid-19, o que ajudará a aumentar as entregas no segundo semestre.
No início de junho, o CEO Elon Musk disse aos executivos que tinha um “sentimento muito ruim” sobre a economia e precisava cortar cerca de 10% da equipe da fabricante de carros elétricos.
Musk disse que a demanda por veículos da Tesla continua forte, mas que ainda há desafios com a cadeia de suprimentos.
Em junho, a Tesla voltou a aumentar os preços de alguns de seus modelos nos Estados Unidos e na China depois que Musk alertou para uma pressão inflacionária significativa em matérias-primas e logística.
Junho de 2022 foi o mês de maior produção de veículos na história da empresa, disse a Tesla em um comunicado à imprensa.
Analistas esperavam que a Tesla entregasse 295.078 veículos no período de abril a junho, segundo dados da Refinitiv. Vários analistas reduziram ainda mais suas estimativas para cerca de 250.000 devido ao prolongado lockdown da China.
REUTERS
CHINA - O presidente da China, Xi Jinping, advertiu na quarta-feira (22) contra a "ampliação de alianças militares" em um discurso prévio a uma cúpula virtual com os líderes da Rússia, Índia, Brasil e África do Sul.
Xi disse no fórum empresarial do bloco BRICS que a "crise da Ucrânia é um alerta" e advertiu contra "a expansão de alianças militares e a busca da própria segurança às custas da segurança de outros países", segundo a imprensa estatal.
O presidente chinês também criticou as sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia à Rússia, assegurando que "as sanções são um bumerangue e uma faca de dois gumes".
O bloco BRICS de economias emergentes, criado em 2009, reúne 40% da população global e representa quase um quarto do PIB mundial.
Três de seus membros - China, Índia e África do Sul - se abstiveram de votar uma resolução para condenar a invasão russa da Ucrânia.
A China e a Índia têm fortes laços militares com a Rússia e compram quantidades significativas de petróleo e gás.
Há uma semana, Xi expressou seu apoio a questões de "soberania e segurança" em uma ligação com o russo Vladimir Putin, levando os Estados Unidos a pedir a Pequim que evite se colocar no "lado errado da história".
A África do Sul, um dos poucos países africanos com influência diplomática fora do continente, também se recusou a condenar a ação militar da Rússia, para salvaguardar importantes laços econômicos.
- Cooperação com a Rússia -
A cúpula do grupo BRICS acontece enquanto a Rússia continua sua ofensiva militar na Ucrânia, principalmente no leste.
Vladimir Putin defendeu nesta quarta-feira reforçar os vínculos entre os países do grupo BRICS diante das sanções ocidentais sem precedentes contra a economia russa por sua invasão da Ucrânia.
"Os empresários dos nossos países são obrigados a desenvolver suas atividades em condições difíceis, já que os sócios ocidentais omitem os princípios de base da economia de mercado, do comércio livre", disse o presidente russo.
Putin denunciou ainda "a aplicação permanente de novas sanções por motivos políticos", que contradizem "o bom senso e a lógica econômica elementar".
Nesse contexto, a Rússia está "redirecionando ativamente seus fluxos comerciais e contatos econômicos estrangeiros para parceiros internacionais confiáveis, especialmente os países do BRICS", destacou Putin.
"As negociações estão em andamento para abrir lojas da rede indiana na Rússia e aumentar a participação de carros chineses (...) no mercado russo", declarou.
"As entregas de petróleo russo para China e Índia estão aumentando. A cooperação agrícola está se desenvolvendo de forma dinâmica", assim como a exportação de fertilizantes russos para os países do grupo, segundo o presidente russo.
A Rússia também quer trabalhar com seus parceiros "mecanismos alternativos de transferência internacional" e uma "moeda de reserva internacional" para reduzir a dependência do dólar e do euro.
Para o analista político Manoj Joshi, de Nova Délhi, os BRICS dão a Putin uma plataforma importante.
"Envia uma mensagem aos Estados Unidos e à União Europeia (UE) de que eles não tiveram sucesso na tentativa de isolar Putin e a Rússia", explicou à AFP.
CHINA - A China aumentou claramente suas importações de petróleo russo em maio, segundo dados oficiais publicados nesta segunda-feira (20), ajudando a Rússia a contra-atacar a atitude de seus clientes ocidentais no marco da guerra na Ucrânia.
As importações chinesas de petróleo russo aumentaram 55% em maio em relação ao ano anterior, segundo dados da alfândega de Pequim.
A segunda maior economia do mundo importou cerca de 8,42 milhões de toneladas de petróleo da Rússia, superando os embarques de petróleo da Arábia Saudita, que geralmente é o maior fornecedor da China.
Na semana passada, o presidente chinês Xi Jinping assegurou ao presidente russo Vladimir Putin seu apoio em questões de "soberania" e "segurança". Pequim anunciou um importante apoio diplomático a Moscou.
Os dados chineses foram publicados na semana em que o conflito da Ucrânia completará quatro meses e quando outros compradores evitam o petróleo russo.
A imprensa estatal informou no início do mês que a China está disposta a "intensificar a coordenação estratégica entre os dois países".
O Kremlin anunciou que os dois presidentes concordaram em aumentar a cooperação econômica diante das sanções "ilegais" impostas pelo Ocidente.
Os países ocidentais adotaram sanções sem precedentes contra a Rússia em represália pela invasão da Ucrânia. Moscou procura novos mercados e fornecedores para substituir as empresas estrangeiras que abandonaram o país.
- China ao resgate -
Em relação às compras de gás natural liquefeito (GNL), avançou 54% em um ano, mantendo-se em 397 mil toneladas, segundo a alfândega.
A atitude da China contrasta com a do Ocidente, que tenta reduzir sua dependência dos hidrocarbonetos russos.
Um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) publicado na semana passada indica que as exportações de petróleo da Rússia para o Ocidente caíram claramente: para a UE, de 3,9 milhões de barris/dia para 3,4 milhões, e para os Estados Unidos e Reino Unido caiu de 0,9 para 0,1 milhão de barris por dia.
Em contrapartida, os envios à China aumentaram de 0,1 milhão de barris diários em fevereiro para 0,9 milhão em maio.
A China é o principal parceiro econômico da Rússia. Incluindo todos os produtos, as importações totais da China da Rússia aumentaram em maio 80% em um ano para cerca de 10,3 bilhões de dólares.
Na quarta-feira, o presidente chinês Xi Jinping reiterou a proximidade de seu país com a Rússia em uma conversa telefônica com seu colega Vladimir Putin.
- "Velho amigo" -
Os dois líderes concordaram em ampliar a cooperação no campo energético, segundo um relatório do Kremlin.
A China, que compartilha mais de 4.000 quilômetros de fronteira com a Rússia, viu suas necessidades energéticas aumentarem nas últimas décadas, de acordo com seu crescimento econômico.
No ano passado, o vizinho russo forneceu ao gigante asiático 16% de seu petróleo, segundo o banco ANZ.
O presidente chinês nunca escondeu sua proximidade com Vladimir Putin, descrevendo-o como um "velho amigo".
Desde a chegada de Xi ao poder em 2012, ambos conversaram mais de trinta vezes.
O último encontro foi em fevereiro na China, três semanas antes do início da guerra na Ucrânia.
Os dois líderes proclamaram então "a amizade sem limites" entre China e Rússia e assinaram múltiplos acordos, especialmente no âmbito do gás.
A China se recusa a usar a palavra "invasão" para descrever a operação militar lançada pela Rússia na Ucrânia e responsabiliza Estados Unidos e Otan pelo ocorrido.
Próximo ao Kremlin, com quem formar uma frente comum contra os Estados Unidos, o poder chinês se absteve de condenar a invasão russa.
CHINA - O investimento estrangeiro foi um dos pilares do "milagre econômico" na China, país que em quatro décadas tirou 850 milhões de pessoas da pobreza.
Após a morte de Mao Tsé-tung em 1976, o comunismo mais ortodoxo deu lugar a uma abordagem pragmática do desenvolvimento econômico e, três anos depois, o país abriu suas portas ao investimento estrangeiro.
Nas décadas seguintes, a entrada de capitais cresceu exponencialmente, com o PIB chinês expandindo a uma taxa média superior a 9% ao ano.
Mas agora essa tendência de longo prazo começou a se reverter.
O investimento estrangeiro na China vem despencando desde o início deste ano, especialmente desde a invasão russa da Ucrânia.
Somente entre janeiro e março, investidores estrangeiros retiraram cerca de US$ 150 bilhões (cerca de R$ 760 bilhões) em ativos financeiros em yuan, principalmente em títulos.
"Embora a China tenha registrado entradas (de capitais) em janeiro, as saídas de fevereiro e março foram tão grandes que tornaram o primeiro trimestre o pior já registrado. A fuga continuou em abril", indica o relatório de maio do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).
A entidade com sede em Washington prevê uma saída de ativos da China de US$ 300 bilhões este ano, mais que o dobro dos US$ 129 bilhões em 2021.
Analisamos quais são as quatro principais causas desta tendência, se ela veio para ficar, que consequências terá e como as autoridades chinesas estão reagindo.
1. A estratégia "covid zero"
"As políticas de 'covid zero' estão levando a China a uma contração semelhante à da primeira onda da pandemia", disse à BBC o economista espanhol Juan Ramón Rallo.
Mais de dois anos após o início da pandemia, a maioria dos países retirou as restrições devido à covid. Mas na China é diferente.
Pequim, que antes sempre priorizava o crescimento econômico acima de tudo, desta vez colocou isso de lado para evitar uma possível crise de saúde, apesar de a maioria de sua população estar vacinada.
O governo impôs confinamentos rígidos em Xangai — que responde por 5% do PIB nacional. E em outras cidades, ele reforçou medidas anticovid, reduzindo a atividade empresarial.
Assim, o desemprego nas cidades ultrapassou 6%, sua economia contraiu 0,68% em abril e poucos acreditam que a China atingirá a meta de crescimento para este ano de 5,5%, número que já é discreto em relação aos anos anteriores.
"Muitas empresas ainda veem a China como um mercado importante, mas hoje é difícil manter esse otimismo enquanto o resto do mundo se abre e a China permanece fechada", diz Nick Marro, analista da Economist Intelligence Unit (EIU) em Hong Kong.
Marro acredita que a estratégia "covid zero" não estimula investidores a apostarem na China "já que as regras podem mudar repentinamente, sem aviso prévio, o que dificulta ainda mais o planejamento e as decisões sobre investimentos futuros".
"A grande questão é se os investidores estrangeiros veem o 'Covid Zero' como um problema temporário que podem tolerar. Quanto mais tempo essa política continuar, maior será essa intolerância."
2. A crise imobiliária
A construção de casas tem sido um dos motores de crescimento da economia chinesa nas últimas décadas.
No entanto, o setor está em crise desde o ano passado devido ao forte endividamento das gigantes locais, como a Evergrande.
Embora a crise imobiliária na China venha de antes, os temores dos investidores estrangeiros sobre suas consequências na saúde econômica do país em combinação com os efeitos do "covid zero" e outros fatores são mais recentes.
"Nos últimos 10 anos, a China cresceu com base no crédito barato e na bolha imobiliária", lembra o professor Rallo.
Após o estouro dessa bolha, explica ele, o país está imerso em uma mudança no modelo produtivo que ele descreve como "complicada".
"A digestão de uma bolha imobiliária de tal magnitude é um processo lento e doloroso, ainda mais se não se permite um ajuste rápido, como o Partido Comunista Chinês parece estar fazendo."
Conscientes deste problema, as autoridades chinesas tomaram algumas medidas para revitalizar o mercado imobiliário, incluindo vários cortes nas taxas de juro do financiamento habitacional através de decreto do banco central do país.
Isso coloca a China como um dos poucos países que vai contra a maré: enquanto o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve anunciam aumentos de juros para combater a inflação, Pequim recorre a estímulos para aliviar sua crise imobiliária e revitalizar sua economia — aposta que muitos considerar arriscado em plena escalada de preços em nível global.
3. Rússia, tensões geopolíticas e direitos humanos
A invasão da Ucrânia custou à Rússia o isolamento econômico do Ocidente com sanções de magnitude que ninguém imaginaria para um país tão importante.
A guerra levou muitos investidores a se perguntarem o que aconteceria com seus ativos na China se Xi Jinping lançasse uma operação militar em Taiwan, reprimisse um levante popular em Hong Kong pela força ou decidisse resolver disputas territoriais com vizinhos pela força das armas.
A posição da China no conflito ucraniano — mais próxima da Rússia — também não ajuda.
"Os mercados estão preocupados com os laços da China com a Rússia — isso está assustando os investidores e a aversão ao risco está em evidência desde o início da invasão", disse Stephen Innes, sócio-gerente do serviço de investimentos SPI Asset Management, para a Bloomberg.
"Todo mundo começou a vender títulos chineses, então estamos felizes por não termos comprado nenhum."
O professor Rallo, por sua vez, destaca a tendência de regionalização do comércio global com duas grandes áreas de influência: Europa-EUA, por um lado, e China-Rússia, por outro.
Assim, para as empresas ocidentais "ter parte de sua cadeia de valor no outro bloco pode ser uma desvantagem", então algumas delas optariam por abrir mão desses mercados.
O analista Nick Marro também destaca "o aprofundamento do cisma entre a China e o Ocidente em questões como competição econômica e estratégica, bem como valores democráticos e direitos humanos".
Um bom exemplo disso é o Norges Bank Investment Management, da Noruega, o maior fundo soberano do mundo que administra ativos de 1,3 trilhão de dólares. Em março, o fundo excluiu as ações da empresa chinesa de roupas esportivas Li Ning pelo "risco inaceitável" que "contribui para graves violações dos direitos humanos".
4. A ofensiva contra o setor privado
Tanto o "milagre econômico" chinês quanto a avalanche de fluxos de capital que em grande parte o tornaram possível vieram junto com reformas voltadas para o livre mercado e o desenvolvimento de empresas privadas.
No entanto, observa Nick Marro, "muito da agenda de reformas que poderia beneficiar tanto as empresas privadas estrangeiras quanto as locais estagnou".
A tendência recente de protecionismo e intervenção acontece em vários setores, mas sobretudo na tecnologia, "onde as preocupações de segurança nacional superam todo o resto", diz.
O exemplo mais claro é a ofensiva iniciada em 2021 contra as grandes empresas de tecnologia chinesas, que os críticos atribuem à vontade do Estado de controlar o setor. Isso afetou o valor de empresas de renome mundial, incluindo o Alibaba.
A corporação do bilionário Jack Ma foi uma das mais atingidas pela campanha regulatória de Pequim, que em abril do ano passado impôs a maior multa antitruste da história do país, no valor de cerca de US$ 2,8 bilhões.
Segundo o analista, o governo chinês está dando cada vez mais poder às entidades estatais, o que pode contrariar seu objetivo de reanimar o crescimento econômico.
Nas últimas semanas, a agência Reuters e a Bloomberg citaram fontes do setor que dizem que Pequim planeja corrigir sua política sobre empresas de tecnologia, embora o governo não tenha confirmado isso oficialmente.
Desinvestimento tem limite?
Os índices de ações chineses também não têm dado bons retornos aos investidores nos últimos meses.
O Shanghai CSI300 atingiu o fundo do poço no final de abril e desde então se recuperou ligeiramente, embora ainda esteja longe de seus níveis no início do ano.
A moeda local, o yuan, foi negociada em seus níveis mais baixos em dois anos em relação ao dólar em maio.
A curva descendente dos índices chineses não é muito mais acentuada do que a de seus equivalentes nos EUA e na Europa, que também se depreciaram desde o início do ano após atingirem máximas em 2021.
O superávit comercial da China ultrapassou US$ 200 bilhões no primeiro trimestre. Embora isso aconteça em parte por causa da queda nas importações, a reserva é considerável e ajuda o país a resistir melhor às retiradas de investimentos estrangeiros.
Nesse contexto, descreve o IIF em seu relatório, as saídas de capitais da China não estão colocando em risco a solvência do país, que não necessita de moeda estrangeira para cumprir suas obrigações externas.
A instituição também considera que a onda de desinvestimentos na China tem limites.
"Embora vejamos empresas de alto perfil anunciando planos para deixar o mercado, não devemos entender isso como um êxodo. Muitas dessas empresas estão na China há décadas e elas não será fácil ou rápida a decisão delas de deixar esse mercado ," ele diz.
Em editorial recente, a revista The Economist aponta para o próximo Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCC), marcado para outubro, como o ponto de virada que pode dar um novo foco à economia chinesa e apresentar uma perspectiva diferente para os investidores estrangeiros.
"A visão otimista é que esse período sombrio de ideologia, erros políticos e crescimento lento faz parte da preparação para o congresso do partido. Quando isso passar, os pragmáticos terão mais controle da política, a 'covid zero' acabará e voltará o apoio à economia e à tecnologia".
- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61809852
CHINA - A China apresentou números ruins de produção industrial e vendas no varejo em maio, no momento em que o crescimento da segunda maior economia do mundo é ameaçado pelas persistentes restrições anticovid do país.
Em maio, as vendas no varejo caíram 6,7% em ritmo anual, anunciou o Escritório Nacional de Estatísticas, no terceiro mês consecutivo de contração deste indicador de consumo.
O resultado é melhor do que a queda registrada em abril (-11,1%).
Na produção industrial, os dados mostram uma leve recuperação de 0,7%, após uma queda de 2,9% no mês anterior, enquanto o desemprego em áreas urbanas também registrou leve redução, a 5,9%.
Analistas e até alguns políticos chineses estão preocupados com o impacto econômico da persistência da estratégia de saúde "covid zero", que inclui confinamentos e testes em larga escala que perturbam a atividade e a cadeia de suprimentos.
O impacto é particularmente significativo com o confinamento da cidade mais populosa e centro econômico da China, Xangai, que em junho começou a deixar para trás dois meses de confinamento severo.
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