UCRÂNIA - As tropas ucranianas conseguiram avanços significativos ao redor da cidade cercada de Bakhmut (leste), epicentro dos combates contra a Rússia há vários meses, anunciou nesta sexta-feira (12) a vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar.
"O inimigo sofreu baixas importantes. Nossas forças de defesa avançaram dois quilômetros nas proximidades de Bakhmut. Não perdemos nenhuma posição na cidade esta semana", afirmou Maliar em um comunicado divulgado nas redes sociais.
As declarações de Maliar foram divulgadas depois que uma fonte da cúpula militar ucraniana anunciou esta semana que as tropas russas recuaram em algumas áreas de Bakhmut, depois dos contra-ataques das forças de Kiev.
A Rússia, no entanto, negou na quinta-feira que a Ucrânia tenha registrado avanços em Bakhmut e afirmou que os relatos de perdas territoriais ao redor da cidade "não correspondem à realidade".
O grupo paramilitar russo Wagner, que comanda o ataque terrestre de Moscou contra Bakhmut, reclamou recentemente da falta de munições e ameaçou abandonar a localidade se não recebesse mais apoio do Kremlin.
O Instituto para o Estudo da Guerra, com sede nos Estados Unidos, destaca em uma análise divulgada nesta sexta-feira que Kiev "provavelmente perfurou algumas linhas russas durante contra-ataques perto de Bakhmut".
"Um lançamento foi detectado. Manobre!"
UCRÂNIA - A ordem da equipe ucraniana em terra é clara — um avião de combate russo Su-35 disparou um míssil contra a aeronave de Silk. Ele sabe que tem que abortar a missão para sobreviver.
Silk, codinome do piloto, rapidamente mergulha seu caça bimotor MiG-29 tão baixo que consegue ver as copas das árvores. A antiga aeronave da era soviética começa a trepidar ao ser levada ao limite. Silk passa por torres e colinas que estudou meticulosamente no mapa enquanto se preparava para esta missão.
"Esses voos próximos à superfície são os mais difíceis", diz Silk. "Você tem que se concentrar muito. E, por causa da baixa altitude, você não tem tempo ou espaço para ejetar com segurança."
Jatos de combate como o pilotado por Silk acompanham aeronaves ucranianas de ataque ao solo durante suas missões de combate na linha de frente. O trabalho de Silk é fornecer cobertura contra mísseis ar-ar russos. Mas não há muita coisa que os jatos ucranianos possam fazer para detê-los.
"Nosso maior inimigo são os caças russos Su-35", diz outro piloto de MiG-29 cujo codinome é Juice.
"Conhecemos as posições da defesa aérea [russa], sabemos seus alcances. É bastante previsível, então conseguimos calcular quanto tempo podemos ficar [dentro da sua zona]. Mas no caso de caças, eles são móveis. Eles têm uma boa imagem aérea, e eles sabem quando estamos voando para a linha de frente."
As patrulhas aéreas russas são capazes de detectar a decolagem de um jato nas profundezas do território ucraniano. Seus mísseis R-37M podem atingir um alvo aéreo a uma distância de 150-200 km, enquanto os foguetes ucranianos só conseguem percorrer até 50 km.
Assim, os aviões russos podem ver as aeronaves ucranianas e derrubá-las muito antes de representarem qualquer ameaça.
Desde o início da invasão russa, a Força Aérea Ucraniana sofreu fortes baixas — embora não revele os números exatos.
A alegação da Rússia de que eles destruíram mais de 400 aviões ucranianos não parece plausível, dado que estimativas independentes do tamanho da frota ucraniana apontam para pelo menos metade desse número.
O relatório Military Balance 2022, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), afirma que a Força Aérea Ucraniana tinha 124 aeronaves com capacidade de combate antes da invasão russa em grande escala.
Para acabar com a superioridade da Rússia no ar, a Ucrânia quer que seus parceiros ocidentais forneçam jatos mais modernos, como o F-16 fabricado nos Estados Unidos.
"Nossos pilotos voam no fio da navalha", diz o coronel Volodymyr Lohachov, chefe do departamento de desenvolvimento de aviação da Força Aérea Ucraniana.
"Mas os jatos F-16 nos permitiriam operar além dos sistemas de defesa aérea do inimigo."
E seus mísseis podem ser eficazes em uma distância de até 150 km, o que permitiria a eles atacar também jatos russos.
"É claro que ainda seremos alvos", diz Juice.
"Mas será uma luta igualitária. No momento, não temos nenhuma resposta a eles."
Os F-16 possuem radares melhores que podem detectar mísseis disparados contra eles. Atualmente, a equipe que monitora os radares em solo precisa comunicar verbalmente os pilotos sobre as ameaças que eles enfrentam.
"Nossos jatos não têm um sistema para avisar sobre lançamentos [de foguetes russos]", diz um piloto de jato de ataque Su-25 cujo codinome é Pumba.
"É tudo baseado no visual. Se você os vê, simplesmente tenta escapar disparando armadilhas de calor e manobrando."
A superioridade aérea da Rússia significa que a Ucrânia pode se dar ao luxo apenas a uma mobilização limitada da sua aviação militar perto da linha de frente, o que pode ter um grande impacto no sucesso de qualquer futura operação de contra-ataque. De acordo com Juice, eles realizam até 20 vezes menos missões do que a Força Aérea Russa.
E as armas que as aeronaves de ataque ucranianas possuem são do estoque de antigas bombas e foguetes não guiados da era soviética, que estão se esgotando rapidamente devido aos suprimentos limitados.
Mas não se trata apenas de apoio aéreo para tropas terrestres. Os jatos ocidentais também poderiam melhorar os sistemas de defesa aérea da Ucrânia, de acordo com os pilotos.
"Nossas aeronaves têm radares antigos que não detectam mísseis de cruzeiro [russos]. Somos como gatos cegos quando tentamos derrubá-los", explica o coronel Lohachov.
O alcance das armas ocidentais do F-16 permitiria que eles interceptassem mísseis de cruzeiro "de longa distância diretamente em nossas fronteiras, em vez de tentar pegá-los em algum lugar em áreas centrais da Ucrânia", observa Juice.
Os caças MiG-29 que a Polônia e a Eslováquia transferiram para a Ucrânia recentemente não resolvem seus principais problemas, dizem os pilotos ucranianos. Esses aviões têm as mesmas armas antigas e capacidade limitada da frota ucraniana.
Mas o governo dos EUA descartou o envio de jatos F-16 para a Ucrânia. Muitos temem que fornecer aeronaves ocidentais à Ucrânia só vai escalar o conflito, atraindo os EUA e a Europa diretamente para a guerra.
Nem sequer o treinamento de pilotos ucranianos para pilotar esses aviões foi aprovado. Na verdade, Colin Kahl, subsecretário de políticas de defesa do Pentágono, disse que "o cronograma mais rápido" para a entrega dos F-16 seria de 18 meses e, portanto, não fazia sentido treinar pilotos com antecedência.
No entanto, as autoridades ucranianas esperam obter esses jatos de países europeus, o que ainda exigiria o consentimento dos EUA, mas seria muito mais rápido de entregar.
Quanto ao treinamento de pilotos, "só conseguimos enviar um certo número de pessoas por um período limitado num dado momento. Precisamos evitar reduzir nossas capacidades militares aqui", diz o coronel Lohachov.
Portanto, a melhor opção, segundo ele, é começar a enviar pequenos grupos agora para ter pilotos treinados suficientes quando os aviões chegarem.
Está claro, no entanto, que esses jatos não serão entregues a tempo para a esperada contra-ofensiva da Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já anunciou que esta operação vai seguir adiante sem esperar pelas aeronaves ocidentais.
Alguns especialistas questionam o impacto que os F-16 poderiam ter nesta guerra.
O professor Justin Bronk, pesquisador do Royal United Service Institute (RUSI), diz que esses jatos forneceriam uma camada extra de defesa, mas "não reverteriam a guerra por conta própria".
Até mesmo com os jatos F-16, "os pilotos ucranianos ainda teriam que voar muito baixo em qualquer lugar perto das linhas de frente por causa da ameaça terrestre da Rússia, e isso limitaria o alcance efetivo dos mísseis", explica Bronk.
"E também significa que empregar o poder aéreo da maneira que o Ocidente fez em guerras como do Iraque, Líbia, Afeganistão, não é possível na Ucrânia."
Os desafios logísticos levantam questões sobre se vale a pena enviar os jatos F-16 para a Ucrânia. Não se trata apenas de treinar pilotos e mecânicos — a infraestrutura precisa ser aprimorada também.
Os F-16 são projetados para pistas muito suaves e longas. A Ucrânia terá que adaptar seus aeródromos atuais para atender a esses requisitos — pavimentá-los, esvaziá-los e ampliá-los.
"Mas fazer isso será visível para os russos do espaço e por meio de fontes de inteligência humana", argumenta Bronk.
"E se você fizer apenas uma ou duas bases e tentar estabelecer apoio terrestre para operar os F-15 ou F-16, os russos vão ver e vão atacá-las."
"Você teria que fazer então várias delas. E esbarra na seguinte questão — vale a pena o número de profissionais qualificados e a quantidade de esforço político e apoio logístico que poderia ser usado para outras coisas, como tanques e artilharia, ou sistemas de defesa aérea terrestres?"
Por enquanto, pilotos ucranianos como Pumba, Silk e Juice vão ter que contar com seus antigos caças e jatos de ataque da era soviética.
Quando um alarme convoca para uma nova missão de combate, eles correm em direção a sua aeronave. Fazem um sinal de joia para os mecânicos para confirmar que todos os sistemas a bordo estão funcionando.
Alguns deles participaram de mais de 100 missões de combate. Mas eles sabem que cada voo pode ser o último.
RÚSSIA - O presidente Vladimir Putin prometeu nesta terça-feira (9) a vitória na guerra na Ucrânia, que segundo ele foi orquestrada pelo Ocidente para destruir a Rússia, em uma tentativa de traçar um paralelo com Segunda Guerra Mundial, no dia em que o país celebra a vitória contra a Alemanha nazista em 1945.
Ao mesmo tempo, o fundador do grupo paramilitar Wagner, Yevgueni Prigozhin, cujas forças estão na linha de frente na localidade de Bakhmut, aproveitou a data simbólica para denunciar a incapacidade das autoridades russas de derrotar a Ucrânia e acusou a hierarquia militar de querer "enganar" o presidente russo.
Mais de um ano após o início da ofensiva na Ucrânia, Putin insiste em apresentar o conflito como uma estratégia dos países ocidentais.
"A civilização está novamente em um ponto de inflexão. Uma guerra foi desencadeada contra nossa pátria", disse Putin na Praça Vermelha de Moscou, diante de milhares de soldados, políticos e várias autoridades de ex-repúblicas soviéticas.
O chefe de Estado falou diretamente para as tropas russas, em particular para as centenas de milhares de reservistas mobilizados: "Nada é mais importante agora que a tarefa militar de vocês. A segurança do país depende, hoje, de vocês. O futuro do nosso Estado e do nosso povo depende de vocês".
Putin voltou a acusar as potências ocidentais de utilizar a Ucrânia para provocar "o colapso e a destruição de nosso país".
"Pela Rússia, por nossas corajosas Forças Armadas, pela vitória! Hurra!", clamou, antes do início do desfile de milhares militares.
- Desfile mais modesto -
A cerimônia anual tem o objetivo de enaltecer o poderio russo, em particular quando a vitória de 1945 ocupa um lugar central no nacionalismo promovido por Putin.
Mas em 2023, as celebrações acontecem à sombra dos reveses militares na frente de batalha.
O desfile desta edição foi muito mais modesto que nos últimos anos: sem exibição aérea ou blindados, com exceção de um T-34 soviético da Segunda Guerra Mundial.
Nas ruas de Moscou, várias famílias acompanharam o desfile em meio a grandes medidas de segurança.
Na segunda-feira, 8 de maio, dia em que muitos países ocidentais celebram o fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, prometeu que a Rússia será derrotada "como o nazismo foi derrotado".
Kiev recebeu nesta terça-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para celebrar o Dia da Europa.
"Nossos esforços para uma Europa unida, a segurança e a paz devem ser tão fortes quanto o desejo da Rússia de destruir nossa segurança, nossa liberdade e nossa Europa", afirmou Zelensky ao lado da presidente da Comissão.
Para isto, é necessário que a União Europeia (UE) acelere a entrega de munições, "uma questão crucial", insistiu.
Ele também fez um apelo para que o bloco inicie as negociações para a adesão da Ucrânia e acabe com a "incerteza política artificial" nas relações entre Kiev e Bruxelas.
Von der Leyen elogiou a luta da Ucrânia contra as forças russas.
"A Ucrânia está lutando pelos ideais da Europa (...) Na Rússia, Putin e seu regime destruíram estes princípios. E agora tentam destruí-los na Ucrânia", disse.
Na frente de batalha, após 15 meses de ofensiva na Ucrânia, o exército russo parece enfraquecido por baixas, reveses nos combates e tensões entre o Estado-Maior e os paramilitares do grupo Wagner.
- Acusações do grupo Wagner -
O fundador da milícia escolheu a data simbólica de 9 de maio para acusar a hierarquia militar de querer "enganar" Putin sobre a ofensiva.
Prigozhin também disse que os soldados do exército oficial fugiram de suas posições em Bakhmut, epicentro dos combates no leste da Ucrânia.
"Hoje (terça-feira), uma das unidades do ministério da Defesa fugiu de um de nossos flancos (...) Eles abandonaram suas posições, todos fugiram", acusou Prigozhin em um vídeo postado no Telegram.
"Por que o Estado não consegue defender o país?", questionou, antes de destacar que o que é exibido na televisão russa não corresponde à realidade.
As comemorações de 9 de maio acontecem com grandes medidas de segurança, depois de um aumento considerável dos ataques em território russo que Moscou atribui a Kiev.
Os ataques acontecem quando muitos consideram iminente uma ampla contraofensiva ucraniana, com o objetivo de tentar recuperar os territórios ocupados pela Rússia no sul e leste do país.
O ataque mais chamativo, mas que provoca muitas perguntas, aconteceu na semana passada, quando dois drones se aproximaram do Kremlin.
Moscou apresentou o ato como uma tentativa de assassinato de Putin, mas a Ucrânia negou qualquer envolvimento no ataque.
Os ataques e atos de sabotagem provocaram o cancelamento de vários eventos e cerimônias programadas em diversas cidades da Rússia.
Ao mesmo tempo, a Rússia prossegue com os bombardeios na Ucrânia.
A Força Aérea ucraniana afirmou nesta terça-feira que derrubou 23 mísseis de cruzeiro russos, de um total de 25 lançados durante a noite.
O comando militar de Kiev anunciou que derrubou 15 "objetivos aéreos inimigos" ao redor da capital, mas não relatou vítimas ou danos consideráveis.
UCRÂNIA - Civis teriam sido atingidos em ataques com drones e mísseis contra Kiev e outras cidades ucranianas. Nova ofensiva ocorre na véspera do Dia da Vitória, que marca capitulação da Alemanha nazista em 1945.A Rússia lançou uma nova onda de ataques aéreos a Kiev e outras cidades da Ucrânia, disseram autoridades ucranianas nesta segunda-feira (08/05), deixando um rastro de destruição, mortos e feridos.
“Infelizmente, há civis entre os mortos e feridos; prédios, casas particulares e outras infraestruturas civis foram danificadas”, disseram as Forças Armadas da Ucrânia.
A intensificação da ofensiva russa ocorre na véspera do Dia da Vitória, um dos feriados mais comemorados na Rússia, que marca o aniversário da capitulação da Alemanha nazista em 1945.
Noite teve ataques com 35 drones e 16 mísseis
O comando militar da Ucrânia disse que as forças ucranianas destruíram 35 drones Shahed, de fabricação iraniana, lançados durante a noite pela Rússia em diferentes alvos em todo o país.
“A Federação Russa [também] lançou 16 ataques com mísseis na noite passada, em particular nas cidades de Kharkiv, Kherson, Mykolaiv e na região de Odessa”, disse o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia em sua atualização diária.
Ao menos cinco pessoas ficaram feridas em ataques russos contra Kiev, disseram autoridades ucranianas. Mísseis incendiaram um depósito de alimentos na cidade de Odessa, no Mar Negro, e explosões foram relatadas em várias outras regiões ucranianas.
Em Kiev, três pessoas ficaram feridas em explosões no distrito de Solomyanskyi, e outras duas no momento em que destroços de um drone caíram no distrito de Sviatoshyn, disse o prefeito Vitali Klitschko em seu canal no Telegram.
Aeroporto, depósito de alimentos e prédio residencial entre os alvos
Segundo a administração militar de Kiev, destroços de um drone também caíram em uma pista do aeroporto de Zhuliany, um dos dois aeroportos de passageiros da capital ucraniana, sem provocar incêndios. Serviços de emergência estariam trabalhando no local.
Os militares também disseram que, no distrito central de Shevchenkivskyi, em Kiev, destroços de drones aparentemente atingiram um prédio de dois andares, causando danos. Não havia informações imediatas sobre possíveis vítimas.
Enquanto isso, Serhiy Bratchuk, porta-voz da administração militar de Odessa, postou em seu canal do Telegram fotos de uma grande estrutura totalmente tomada por chamas, no que ele disse ser um ataque russo a um depósito de alimentos.
Após os alertas de ataque aéreo soarem por horas em cerca de dois terços da Ucrânia, também houve relatos de sons de explosões na região de Kherson, no sul e na região de Zaporíjia, no sudeste.
Rússia espera capturar Bakhmut até terça-feira
A Rússia intensificou o bombardeio de Bakhmut e espera tomar a cidade até esta terça-feira, disse o principal general ucraniano encarregado da defesa da cidade sitiada, prometendo fazer de tudo para evitar que isso aconteça.
O coronel-general Oleksandr Syrskyi, comandante ucraniano das forças terrestres, disse que as forças russas aumentaram a intensidade do bombardeio da cidade com armas pesadas, começaram a usar equipamentos mais avançados e estavam reagrupando suas tropas.
“Hoje é importante tomarmos decisões o mais rápido possível e prevermos as ações do inimigo”, disse Syrskyi em seu canal no Telegram, após uma visita às tropas ao longo da linha de frente de Bakhmut.
“Os russos ainda esperam capturar a cidade até 9 de maio. Nossa tarefa é impedir isso”, disse ele.
A batalha por Bakhmut, onde antes viviam 70 mil pessoas, tem importância simbólica para ambos os lados, com a Ucrânia ainda conseguindo manter o controle sobre algumas partes da cidade, após mais de dez meses de combate feroz contra o Exército russo e o grupo mercenário Wagner.
Para Moscou, Bakhmut é vista como um trampolim para atacar outras cidades ucranianas. Kiev, por outro lado, diz que manter a defesa de Bakhmut, ocupando importantes forças ofensivas russas, permite aos militares preparar sua esperada contraofensiva.
(ip/lf (AP, AFP, dpa, Reuters, ots)
RÚSSIA - Satélites revelam que Moscou já ergueu centenas de quilômetros de defesas nas áreas invadidas. Mas elas também podem ser fator de desvantagem. Moral das tropas e armas ocidentais podem fazer a diferença.
Desde dezembro o exército russo ergue grandes fortificações ao longo de todo o front de guerra na Ucrânia. Imagens de satélite mostram que as tropas que invadiram o país em 24 de fevereiro de 2022 estão fortificando pontos estratégicos dos territórios ocupados, preparando-se para uma contraofensiva. Segundo o serviço secreto britânico, há décadas o mundo não se vê baluartes de tal porte.
A agência de notícias Reuters igualmente registra milhares de novas fortalezas, localizadas nas fronteiras da Rússia e no sul e leste ucranianos: trincheiras, fossos e bloqueios rodoviários se estendem por centenas de quilômetros, além dos chamados "dentes de dragão" da época da Segunda Guerra.
Na opinião de Rob Lee, associado do Foreign Policy Research Institute da Filadélfia, Moscou teria aprendido com a bem-sucedida contraofensiva ucraniana de 2022: "Depois da ofensiva em Kharkiv, a Rússia reconheceu que uma derrota é possível, e que pode voltar a perder território. Acho que se reconheceu que a Ucrânia é capaz de empreender ofensivas."
O que mostram os satélites
Estão sendo cavadas sobretudo trincheiras em que os soldados podem ficar de pé, reforçadas na frente com sacos de areia e com pedras. Elas visam proteger a infantaria russa de balas, estilhaços de granadas e fogo de artilharia, relata Brady Africk, do American Enterprise Institute, em Washington, baseado em análise de imagens de satélite.
Atualmente há numerosos postos desse tipo ao longo de estradas importantes e nas proximidades de cidades estratégicas. Observadores relatam também sobre campos minados.
Tudo indica que é nessas áreas onde são construídas as estruturas de defesa maiores que os russos contam com uma ofensiva das forças armadas ucranianas. Tais postos se concentram no sudeste da região de Zaporíjia, no leste da Ucrânia e em torno do istmo que liga a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, ao restante do país sob invasão.
"São fortificações para se levar a sério, que foram construídas em seis meses", explica Oleh Zhdanov, perito militar e coronel da reserva ucraniana. Ele ressalva, contudo, que se trata apenas de instalações localizadas. Assim, a rede ferroviária a leste de Melitopol, por exemplo, está livre de tais baluartes.
Fortalezas também são desvantagem para russos
Niklas Masuhr, do Center for Security Studies da Escola Politécnica Federal de Zurique, avalia a situação: "As fortificações propiciam uma certa previsibilidade e estruturam operações futuras. Isso atenua as fraquezas da Rússia, pois via de regra as forças armadas ucranianas desempenham melhor em situações militares improvisadas e cambiantes."
Burocracia ainda mais reduzida
"Por outro lado, a vinculação das tropas a territórios fortificados os torna mais previsíveis para os ucranianos, que conhecem os locais", acrescenta Masuhr. Rob Lee concorda que a concentração de algumas tropas num trecho definido representa uma vantagem para os ucranianos, permitindo-lhes penetrar fundo no território sob ocupação russa. Desse modo, eles poderão destruir mais outras linhas fortificadas e alcançar um avanço maior.
No entanto as imagens de satélite ainda não mostram as posições da artilharia, observa Zhdanov, explicando que os russos só as ocuparão pouco antes do início dos combates. Outro fator importante seriam as forças aéreas russas, as quais, contudo, raramente penetram no espaço sob controle de Kiev, graças à atual eficácia da defesa aérea ucraniana.
"O importante é que as forças de ataque da Ucrânia possuam suficientes sistemas de defesa aérea que protejam as tropas diretamente. Elas serão acompanhadas por uma defesa aérea no nível tático-operativo, que cobrirá territórios inteiros. Esse é um fator a ser considerado e levado muito a sério", alerta Zhdanov.
Moral dos soldados é vital
O coronel reformado ressalva, contudo, que o resultado da contraofensiva não depende unicamente dos baluartes russos nas regiões ocupadas, os quais, segundo os analistas, são capazes de deter um grande avanço do exército ucraniano.
"O elemento mais importante da defesa é: não importa o quanto os soldados se enterrem ou se fortifiquem, tudo depende de sua vontade de se defender e de seu estado emocional e psíquico." Zhdanov recorda que durante a ocupação de Kherson, por quase meio ano os militares russos haviam erguido baluartes diante da cidade, em três linhas. No entanto, isso não impediu que ela fosse libertada pelas forças armadas ucranianas.
"A meta da Ucrânia deve ser imobilizar a liderança militar russa e fazer os soldados russos entrarem em pânico", explicou à CNN Franz-Stefan Gady, especialista em táticas de combate modernas e analista do Institute for International Strategic Studies de Londres. Ele crê que surpresa tática, liderança no campo de batalha e moral de combate serão decisivas nas primeiras 24 horas da ofensiva.
Oleh Zhdanov lembra que na libertação da região de Kharkiv unidades altamente móveis penetraram nas lacunas entre as estruturas fortificadas e trincheiras sem se envolver na luta. "Elas cuidaram para criar caos e pânico entre o inimigo, e então as tropas de assalto da unidade principal levaram a batalha a cabo."
Situação inédita para forças ucranianas
Lee, do Foreign Policy Research Institute, avalia que, para romper os baluartes russos e liberar os territórios ocupados, os tanques de combate e outros veículos blindados ucranianos precisam proceder de modo coordenado com engenheiros, artilharia e até mesmo aviões. Para tal, serão providenciais os equipamentos militares ocidentais recém-fornecidos.
Entre esses, Zhadnov destaca tanto o sistema americano de remoção de minas M58 MICLIC (Mine Clearing Line Charge) quanto os tanques para formação de pontes provisórias Biber, fornecidos pela Alemanha, que permitem superar pequenos obstáculos; e os tanques de engenharia Dachs. Além disso, a Ucrânia recebeu tanques para remoção de minas.
Para Niklas Masuhr, o apoio ocidental será também importante na capacitação das forças ucranianas para operarem em grupos armados combinados, unindo e concentrando diversas unidades num combate eficaz. Tanto os armamentos com munição fornecidos quanto o apoio informativo continuado terão significado decisivo, frisa o especialista em segurança.
Segundo o major-general reformado australiano Mick Ryan, um planejamento inteligente por parte da Ucrânia poderá ser ainda mais determinante do que os armamentos ocidentais, com "treinamento dos membros de batalhões, brigadas e da liderança para operações complexas com grupos armados combinados", pois se trata de uma operação de solo extremamente difícil.
Masuhr concorda, alertando: "Nunca vimos ataques do exército ucraniano a posições russas tão fortificadas como essas. As contraofensivas anteriores foram contra tropas russas debilitadas, dispersas. A situação atual é totalmente diferente."
Autor: Daniil Sotnikov / DW
UCRÂNIA - Vários ataques russos com mísseis e drones atingiram na madrugada desta sexta-feira (28) várias cidades da Ucrânia e provocaram pelo menos 12 mortes, uma ofensiva condenada pelo presidente ucraniano, que prometeu uma resposta.
“O terror russo deve ter uma resposta adequada da Ucrânia e do mundo. E isso vai acontecer”, afirmou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky.
“Cada ataque deste tipo, cada ato maligno contra nosso país e nosso povo aproxima o Estado terrorista do fracasso e da punição”, acrescentou Zelensky no Telegram.
Em Uman, uma cidade de 80.000 habitantes na região central do país, 10 pessoas morreram quando um míssil atingiu um prédio residencial, informou o ministério do Interior.
“As equipes de resgate acabam de recuperar mais três corpos dos escombros, o que eleva a 10 o total de vítimas às 10H05 (4H05 de Brasília”, anunciou o ministro Igor Klimenko.
Nove pessoas foram hospitalizadas, de acordo com o governador da região, Igor Tabourets. Ele informou que dois mísseis de cruzeiro foram lançados contra Uman, que fica 200 quilômetros ao sul de Kiev: um atingiu um edifício residencial e o outro um depósito.
Em Dnipro, o ataque deixou dois mortos, uma mulher e um menino de três anos, afirmou o prefeito Boris Filatov.
O comando militar de Kiev informou que 11 mísseis de cruzeiro lançados por bombardeiros foram derrubados, além de dois drones, sem provocar vítimas ou danos consideráveis.
O exército ucraniano anunciou no Telegram que derrubou “21 mísseis de cruzeiro X-101/X-555 de um total de 23 e dois drones” no país.
O ataque com mísseis foi lançado “por volta das 4H00” (22H00 de Brasília, quinta-feira) a partir de bombardeiros estratégicos russos do tipo Tu-95 localizados na área do Mar Cáspio, segundo as Forças Armadas.
– Ataques menos frequentes –
Em Kiev, uma linha de energia elétrica foi cortada ao ser atingida por destroços que também provocaram o bloqueio de uma estrada, segundo as autoridades.
“Nenhuma vítima civil ou danos a edifícios residenciais ou infraestruturas foram relatados na capital”, afirmou o comandante das forças de defesa antiaérea de Kiev, Serguiy Popko.
Na localidade de Ukrainka, próxima da capital, os estilhaços de um míssil derrubado atingiram um edifício. Uma menina ficou ferida e foi hospitalizada, segundo o governador Ruslan Kravchenko.
A Rússia bombardeou de modo incessante as cidades ucranianas e a infraestrutura do país durante o inverno (hemisfério norte, verão no Brasil), mas o ritmo dos ataques diminuiu nos últimos meses.
A capital Kiev não era alvo de ataques com mísseis há mais de 50 dias.
Os combates entre as tropas russas e os ucranianos estão concentrados no leste do país, onde acontece uma batalha violenta pelo controle da cidade de Bakhmut, que está praticamente destruída.
A Ucrânia reforçou nos últimos meses o sistema de defesa aérea, depois que recebeu equipamentos ocidentais, considerados cruciais para a estratégia do país na guerra.
Neste mês, Kiev recebeu os sofisticados sistemas americanos Patriot.
A Ucrânia afirma há vários meses que está preparando uma contraofensiva para expulsar as tropas russas dos territórios que ocupam no leste e sul do país.
Os ataques desta sexta-feira aconteceram dois dias depois de uma conversa por telefone entre os presidentes da Ucrânia e da China. O chefe de Estado chinês, Xi Jinping, defendeu uma negociação de paz.
UCRÂNIA - A Rússia bombardeou, na madrugada desta quinta-feira (27) a cidade de Mykolaiv, no sul da Ucrânia. Ao menos uma pessoa morreu e 23 ficaram feridas, entre elas, uma criança.
Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, quatro mísseis do tipo Kalibr foram disparados do Mar Negro. "As armas de alta precisão visaram casas de civis, um prédio histórico e um imóvel de vários andares", indicou no Telegram junto com um vídeo mostrando residências com janelas quebradas sob fumaça.
Vitaliy Kim, governador da região atingida, declarou que bombeiros apagaram diversos incêndios provocados pelos destroços dos mísseis. Membros do serviço de socorros também realizam buscas nos escombros do bombardeio.
Civis no alvo dos ataques
A cidade portuária de Mykolaiv, a 170 quilômetros da península da Crimeia, contava com cerca de 470 mil habitantes antes da invasão russa, em fevereiro de 2022. A localidade e seus arredores são alvo de grandes bombardeios desde o início do conflito. A Rússia nega, no entanto, que os ataques visem civis.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, mais de oito mil civis foram mortos na Ucrânia desde o início da guerra. No entanto, o órgão adverte que a quantidade de vítimas, atualizadas em março, é provavelmente superior.
Na terça-feira (25), outro bombardeio que visou um museu em Kupiansk, no nordeste da Ucrânia, matou duas pessoas e feriu 10. Zelensky classificou o ataque de "bárbaro", acusando a Rússia de ser "um país terrorista".
China mediadora da paz
Tradicional aliada da Rússia, a China tenta se mostrar como uma mediadora da paz. Na quarta-feira (26), o presidente chinês, Xi Jinping, conversou com Zelensky por telefone, pela primeira vez desde o início do conflito.
Para o líder chinês, "o diálogo e a negociação" são o único caminho para tentar colocar um fim à guerra. "A China sempre esteve do lado da paz e sua posição fundamental é promover um diálogo de paz", afirmou Xi Jinping ao presidente ucraniano, segundo a rede estatal chinesa CCTV.
A ligação durou "quase uma hora", segundo Kiev, e foi de "iniciativa da parte ucraniana", destacou o Ministério de Relações Exteriores chinês. No Twitter, o Zelensky confirmou que teve uma "longa e significativa" conversa com Xi Jinping.
Depois da conversa, Zelensky anunciou a nomeação de um embaixador na China, um cargo vago desde fevereiro de 2021. O posto será ocupado pelo ex-ministro de Indústrias Estratégicas, Pavlo Riabikin, de 57 anos, informou Kiev.
O governo chinês também indicou que "enviará um representante especial [...] à Ucrânia e outros países para manter uma comunicação em profundidade com todas as partes com vistas a uma solução política para a crise ucraniana".
(Com informações da AFP)
RÚSSIA - Em meio a perdas brutais de equipamento blindado na Guerra da Ucrânia, o governo de Vladimir Putin decidiu enviar ao país invadido os primeiros T-14 Armata, o mais recente modelo de tanque russos.
Ao menos foi o que anunciou na terça (25) a agência estatal RIA-Novosti, citando informações extraoficiais do Kremlin. Na ritualística de comunicação russa, isso significa que é provável que os tanques tenham ido, embora o efeito tenda a ser mais simbólico.
A RIA não disse quantos tanques foram enviados, nem para onde, mas apenas que "eles ainda não participaram em operações de assalto direto", sendo empregados em "coordenação de combate". Também afirmou que eles foram equipados com proteção adicional em suas laterais.
O T-14 é, no papel, o mais avançado tanque de guerra do mundo. Como a sigla sugere, teve seu desenho finalizado em 2014, e, no ano seguinte, estreou na parada da principal data do calendário militar russo, o Dia da Vitória (na Segunda Guerra Mundial) em 9 de maio.
O modelo é revolucionário: em vez de posicionar os operadores do canhão na torre, ela é completamente automatizada. Os três tripulantes vão à frente, em um compartimento blindado separado do resto do maquinário.
Isso resolve um problema trágico do desenho do T-72, o venerando tanque que é o centro da força blindada russa. Para ter o famoso perfil baixo e tamanho reduzido, tornando-se um alvo menor, o blindado usa um sistema de municiamento automático, no qual até 40 projeteis ficam num carrossel embaixo da torre.
O resultado é que o comandante do veículo e o operador do canhão sentam sobre os explosivos, e as diversas torres explodidas para longe dos T-72 na Ucrânia são testemunho do que isso significa em batalha. Modelos mais novos, como o T-80 e o moderno T-90 aliviaram, não suprimiram a falha.
Em tanques ocidentais maiores e mais pesados, como o Leopard-2 que agora está na Ucrânia e o americano M1A2 Abrams, um quarto soldado na tripulação faz o municiamento dos projeteis.
O desenvolvimento do T-14 provou-se problemático. Nos ensaios de sua estreia em 2015, um dos tanques pifou e ficou travado no meio de uma avenida, mas as questões parecem ser maiores. A previsão inicial dos russos era de ter 2.300 dos modelos até 2025.
Oficialmente, apenas um lote de 40 seria entregue para ação neste ano, e o mais recente orçamento militar russo previa apenas 132 blindados. Mesmo que Moscou tenha mudado décadas de doutrina, deixando a ideia soviética de quantidade se sobrepor a qualidade, é pouco para o maior país do mundo e uma potência de natureza continental.
Segundo um especialista militar russo, que pede para não se identificar, os cerca de US$ 5 milhões (R$ 25 milhões) gastos para fazer um T-14 seriam melhor aplicados equipando com novas miras e blindagem adicional os tanques já existentes. Aparentemente, foi isso que o Ministério da Defesa optou por fazer.
Com efeito, o que se viu na invasão da Ucrânia em 2022 foram grandes quantidades de T-72, com níveis variados de modernização, seguidas por um contingente menor do poderoso T-80, que peca por usar uma turbina beberrona de combustível no motor.
Só mais para o fim do ano passado os T-90, mais modernos, foram vistos em ação, e em números menores. Já tanques retirados das antigas reservas soviéticas, relíquias como o T-62 e o T-64, foram avistados com certa frequência, em especial na retaguarda dos territórios ocupados no leste e sul do país.
O T-14, se chegar a ser usado em combate, não deverá fazer mais do que uma aparição simbólica pelos números envolvidos. Mas bastará ele abater um dos tanques de segunda mão enviados por países da Otan (aliança militar do Ocidente) que o golpe de propaganda estará dado.
Não é o suficiente, contudo. Levando em conta apenas avistamentos de tanques destruídos, capturados ou abandonados confirmados por georreferenciamento pela equipe do site holandês Oryx, os russos perderam 1.906 tanques na guerra até esta terça.
Isso corresponde a 56% de sua frota ativa pré-conflito, embora a conta seja imprecisa por desconsiderar reservas antigas enviadas à guerra e a produção de 2022 de novos veículos.
O número, de todo modo, impressiona. Do lado ucraniano, foram 490 perdas de uma frota de 987, mas houve diversas reposições: 230 T-72 poloneses e, agora, cerca de 40 dos 140 Leopard-2 alemães prometidos pelo Ocidente já chegaram, assim como 14 modelos Challenger-2 britânicos, que são considerados pouco práticos pelo peso excessivo.
A Otan treinou a tripulação dos novos tanques, e tudo indica que Kiev aguarda ter uma certa massa crítica para começar sua prometida contraofensiva, que parece se concentrar em Kherson (sul), onde as forças russas estão menos robustas.
por IGOR GIELOW / FOLHA de S.PAULO
UCRÂNIA - Sob o ruído das bombas e diante das paredes que tremem em um refúgio militar subterrâneo, um soldado ucraniano é evacuado em uma ambulância em Bakhmut, o atual epicentro da guerra da Ucrânia onde o Exército ucraniano tenta resistir ao avanço russo.
Militares e enfermeiros fazem neste soldado ferido, com o rosto ensanguentado, os primeiras curativos antes de se esconderem de novo, enquanto prossegue um intenso bombardeio russo.
“Doutor, por que sinto tanto frio? Sinto como se estivesse indo embora”, afirma o soldado deitado em um colchão cheio de lama.
No domingo, uma equipe da AFP pôde trabalhar em Bakhmut, uma oportunidade rara para a imprensa de verificar a devastação nesta localidade do leste da Ucrânia.
Antes do conflito, viviam ali cerca de 70.000 pessoas, mas, agora, ela se transformou em símbolo da guerra de atrito que se tornou a invasão russa da Ucrânia.
Os jornalistas acompanharam soldados ucranianos e ouviram o ruído constante dos disparos da artilharia russa durante o tempo em que estiveram em Bakhmut.
No entorno de imóveis residenciais já não há nenhum rastro de seus moradores e a sombra da guerra é onipresente, desde as ruínas e estilhaços de vidro espalhados pelo chão, até as cruzes fincadas que indicam a localização dos túmulos improvisados de soldados mortos em combate.
Diante do Exército russo e dos paramilitares do Grupo Wagner, que controlam 80% de Bakhmut, as tropas ucranianas resistem como podem na parte ocidental desta cidade do Donbass.
Ambos os lados sofreram baixas importantes nesta batalha, a mais longa da guerra na Ucrânia e que monopoliza atualmente os esforços bélicos, à espera de que comece a contraofensiva ucraniana, anunciada em diversas ocasiões, mas depois adiada.
– ‘Estamos cansados’ –
“Eles não param de nos atacar, dia e noite. Só param quando os atacamos e estão ocupados evacuando seus mortos e feridos”, explica um comandante adjunto de uma unidade ucraniana, cujo apelido de guerra é o “Filósofo”.
“Pouco a pouco, vão capturando áreas” da cidade, afirma de um posto de comando subterrâneo em Bakhmut.
“Estamos cansados e as tropas esgotadas”, reconhece o “Filósofo”, que explica que seus homens da 93ª brigada, às vezes, chegam a ficar a menos de três metros do inimigo.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, advertiu, em março, que a queda de Bakhmut abriria caminho para o Exército russo para avançar no Donbass, com a mira posta nas cidades de Sloviansk e Kramatorsk.
A decisão do governo ucraniano de não desistir de Bakhmut traz custos importantes para o Exército ucraniano, que sofre diariamente com as baixas de soldados que morrem ou ficam feridos.
“A cada dia que resistimos aqui, damos uma oportunidade para outras unidades para se prepararem para uma contraofensiva”, opina este comandante adjunto, que, assim como muitos dos soldados ucranianos presentes no local, se queixa da falta de munição.
– ‘Nenhum lugar para se esconder’ –
Não obstante, a defesa da cidade está por um fio, mais precisamente, por uma estrada.
A rodovia T 0504, rebatizada “a estrada da vida”, é a única via da cidade que permanece sob controle das tropas ucranianas e que serve para abastecê-las.
Imagens gravadas com drones pelas equipes de reconhecimento do Exército ucraniano, e que a AFP pôde ver, mostram uma sucessão interminável de construções em ruínas, além de veículos e árvores carbonizadas nas margens desta última estrada em disputa.
“Fortificamos nossas posições e os russos chegam lançando tudo o que têm e tudo o que podem. Bombardeiam tudo com mísseis, obuses de morteiro e com tanques. Não há nenhum lugar para se esconder”, reconhece Andriy, outro soldado de 38 anos.
O comandante Andriy, de 26 anos, maneja um canhão no meio de um terreno encharcado perto de Bakhmut.
Seu trabalho é essencial: evitar um ataque russo pela estrada.
“Se conseguirem bloqueá-la [a estrada], todo o mundo em Bakhmut vai morrer. Não teremos provisões, nem munições, nem comida. Nada. Ficaremos completamente isolados”, explica, enquanto seus homens dedicam-se a juntar os obuses que acabam de receber.
AFP
SEVASTOPOL - As autoridades russas anunciaram na segunda-feira uma suspensão da navegação em águas ao largo da península da Crimeia, cidade de Sevastopol - anexada em 2014 - horas após os sistemas de defesa aérea terem abatido dois drones lançados pelas forças ucranianas contra a cidade, embora não tenham confirmado se existe uma ligação.
A direção para o Desenvolvimento de Infraestruturas de Transportes afirmou que "a navegação de passageiros está suspensa", sem especificar as razões, antes de notar que foi ativada uma rota terrestre para cobrir o transporte afetado, como noticiado pela agência noticiosa russa Interfax.
Horas antes, o governador do Sevastopol Mikhail Razvozhaev disse na sua conta do Telegrama que dois drones tinham sido interceptados por volta das 3.30 da manhã, hora local. De acordo com os dados disponíveis, um deles foi destruído e o outro explodiu por si só. Tudo aconteceu numa estrada externa, não há danos'', disse ele.
Os serviços secretos britânicos disseram em finais de março que os ataques com drones à base russa na península da Crimeia, na cidade de Sevastopol, estão a "limitar" as operações da Frota do Mar Negro.
Sevastopol, devido à sua localização estratégica e ao acolhimento da base principal da frota russa do Mar Negro, tem sido alvo de vários ataques com drones ucranianos. Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, que existe um nível de alerta "amarelo" na Crimeia.
Fonte: (EUROPA PRESS)
por Pedro Santos / NEWS360
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