SALTO - Cada vez que Alfonso Formoso precisa abastecer viaja para outro país. Dirige cerca de 30 quilômetros de Salto, cidade onde vive no Uruguai, até a vizinha Concordia, na Argentina. No caminho, vai ao supermercado e janta algo. Seu bolso agradece. A economia uruguaia, no tanto.
Diante da constante desvalorização do peso argentino, dezenas de milhares de uruguaios atravessam diariamente as pontes localizadas em três pontos ao longo da fronteira fluvial de mais de 800 km que separa os dois países para aproveitar os bens e serviços muito mais baratos a oeste do rio Uruguai.
"Às vezes, vou duas vezes por semana. Ainda ontem vim com um amigo", disse Formoso à AFP em um restaurante em Concordia. "Nem olhamos muito para o preço", confessa este universitário de 23 anos.
Diego Labeque Drewanz, coordenador argentino do Centro de Fronteira Concordia-Salto, destaca o crescimento do fluxo de pessoas, que tem provocado filas de veículos de seis quilômetros de extensão.
"Tivemos picos de até 14 mil pessoas por dia", afirma.
A média diária é de 8,8 mil desde janeiro.
O fenômeno se agravou após as eleições primárias na Argentina, em agosto. Depois delas, o governo desvalorizou o peso em cerca de 20%, ante a forte pressão sobre o dólar que obrigava o Banco Central a utilizar suas minguadas reservas para apoiar a taxa cambial.
Na Argentina, onde, ao contrário do Uruguai, o acesso ao mercado cambial é restrito, a desvalorização ampliou a distância entre o dólar oficial, referência de preços, e o dólar negociado no mercado negro.
Com este aumento do dólar paralelo, a diferença de preços entre Salto e Concordia "estaria acima de 200% em média" e, em alguns itens, "iria para mais de 300%", explicou à AFP Gimena Abreu, do Observatório Econômico da Universidade Católica do Uruguai (UCU).
O último levantamento da UCU, feito em julho, mostrou que Salto estava 126% mais cara, muito acima dos 42% de julho de 2015, quando esse indicador começou a ser elaborado.
- "Abissal" -
Muitos uruguaios se mudaram para a Argentina, onde sua renda aumenta.
"É abissal a diferença!", exclama Carlos Garcilar, um mecânico de 65 anos que acaba de se aposentar e aluga um apartamento em Concordia por um quinto do valor que pagaria em Salto.
Maikol Horvat, um segurança de 39 anos, procura uma casa para ir com toda a família para Villa Zorraquín, na Argentina, perto da ponte binacional.
"Vou continuar trabalhando em Salto e viajar todos os dias", disse ele à AFP.
Em Concordia, colocou combustível por menos da metade do que custa em Salto e foi ao supermercado. No Uruguai, com a mesma quantia, "compramos duas, três coisas", completou.
Segundo o presidente do Centro de Comércio de Concordia, Adrián Lampazzi, a afluência de uruguaios "não chega a compensar" a "crise deste lado", em uma cidade que também detém o triste recorde de ser a mais pobre da Argentina.
No salão M&W, Ezequiel Rubin atende muitas uruguaias. "Eles gastam sem problema e deixam boas gorjetas. Para nós, funciona", comenta.
- "Tsunami" -
Em Salto, sente-se o golpe econômico. O departamento registra uma das maiores taxas de desemprego do Uruguai (12,8%), segundo dados oficiais.
"Tivemos que demitir funcionários e temos pessoas com seguro-desemprego", diz María del Carmen Villar, dona da Farmácia Pasteur.
Os itens de farmácia, principalmente os medicamentos, estão entre os mais afetados pela diferença de preços com a Argentina.
Rodolfo Germano, gerente do posto de gasolina Parada 19, também lamenta a queda nas vendas, mesmo com a redução de impostos para a gasolina de fronteira disposta no Uruguai.
"Há contrabando de todos os produtos, incluindo de combustíveis", denuncia.
Mais de 100 mil pessoas viajaram do Uruguai para a Argentina em um fim de semana prolongado em agosto. O número representa 3% da população uruguaia.
A presidente do Centro Comercial de Salto e da Confederação Empresarial do Uruguai, Vera Facchin, adverte que o gasto dos uruguaios na Argentina deve chegar perto de US$ 1 bilhão (R$ 4,97 bilhões na cotação atual) em 2023. Esse valor equivale a um ponto do Produto Internacional Bruto (PIB) nacional, segundo o Centro de Estudos para o Desenvolvimento.
"Este é um problema que pareceria ser do litoral, mas que escalou em nível nacional", afirma.
Germano alerta: "É como quando o mar recua por um tsunami. Gostamos de pegar os caracóis que cobriam o oceano, mas depois vem a onda e destrói".
BUENOS AIRES - As pesquisas de opinião da Argentina, surpreendidas pela vitória do libertário radical Javier Milei nas primárias presidenciais de agosto, agora mostram o candidato em primeiro lugar nas eleições gerais de 22 de outubro, provavelmente à frente do chefe de economia do partido governista, Sergio Massa.
Milei, um economista e ex-apresentador de TV, tem agitado a elite política com críticas em voz alta e, às vezes, com palavrões contra seus rivais, além de promessas de fechar o banco central, reduzir o governo e dolarizar a economia.
A última pesquisa da consultoria Analogias mostra Milei com 31,1% dos votos, à frente de Massa, com 28,1%, e da ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich, de direita, com 21,2%, um golpe para a principal oposição conservadora, que já foi favorita.
Uma segunda pesquisa da Opinaia dá a Milei 35% dos votos, Massa com 25% e Bullrich com 23%. As pesquisas mostram que o apoio de Milei é mais forte entre homens, jovens e grupos menos abastados.
"O resultado das primárias foi chocante, e o resultado da eleição geral será chocante, seja qual for o resultado", disse a diretora de comunicação da Analogias, Marina Acosta, citando a disputa como "colorida pela novidade política".
As pesquisas sugerem que a corrida eleitoral provavelmente irá para um segundo turno frente a frente, que ocorrerá em novembro. Um candidato precisa de 45% dos votos, ou pelo menos 40% com uma vantagem de 10 pontos, para vencer no primeiro turno.
O concorrente mais próximo de Milei agora parece ser Massa, que faz parte da coalizão peronista de centro-esquerda, aparentemente oferecendo dois modelos econômicos opostos para o país em dificuldades.
"As estratégias de Milei e Massa devem ser opostas uma da outra", disse o analista político Julio Burdman, da consultoria Observatorio Electoral. "Eles estão fazendo isso muito bem, o que está permitindo que ambos obtenham ganhos."
Uma grande ressalva, no entanto, é que os pesquisadores argentinos erraram feio na votação primária e interpretaram mal a última eleição geral de 2019, o que significa que o resultado final pode chocar mais uma vez.
Por Nicolás Misculin / REUTERS
ARGENTINA - A promessa de Javier Milei de dolarizar a economia argentina ainda é, em muitos aspectos, bastante incerta. Para começar, o polêmico candidato precisa vencer as eleições presidenciais em outubro. Uma vez no cargo, ele teria que superar uma série de obstáculos para acabar com o peso como moeda oficial do país.
Mas a verdade é que muitos argentinos não estão esperando para ver o que acontecerá. Eles estão dolarizando a economia por conta própria.
Em setores como tecnológica e finança, funcionários qualificados exigem que os salários sejam pagos em dólar. Empresas como MercadoLibre cada vez mais aderem a essa prática. A maioria dos proprietários de imóveis em Buenos Aires agora só aceita pagamentos de aluguéis em dólar. O mesmo vale para Airbnb. E a lista não tem fim: instrumentos musicais, advogados de divórcio, couro importado — se você quer, desembolse as verdinhas.
A utilização do dólar não é novidade no país, mas agora explodiu e se generalizou à medida que a inflação ultrapassa 100% e destrói o valor dos pesos guardados na carteira ou parados no banco.
É um colapso clássico da moeda fiduciária, como aconteceu na Venezuela devastada pela hiperinflação uma década antes: a confiança na moeda vai embora até o ponto em que as pessoas não querem usá-la nem mesmo para as transações mais básicas, e assim gradualmente a divisa desaparece da economia.
“Quando não há demanda por um produto”, disse Milei em entrevista à Bloomberg na semana passada, “seu valor é zero”.
O valor do peso ainda não é zero, mas está em queda livre. No câmbio oficial, o peso vale menos de um terço de um centavo de dólar. No paralelo, vale menos ainda: um décimo de centavo de dólar.
A divisa afundou 23% só no mês passado, o maior declínio entre todas as moedas monitorado pela Bloomberg, e 91% nos últimos cinco anos. Isto agravou a alta da inflação, que foi em grande parte alimentada pela emissão de moeda para financiar os déficits do governo.
No setor de tecnologia da Argentina, cerca de 200.000 pessoas trabalham sem registro para empresas no exterior pare serem pagas em dólar ou euro e evitar o imposto de renda, segundo a Argencon, uma associação setorial que conta com o MercadoLibre entre seus membros. Um relatório da entidade mostra que a taxa de rotatividade dos trabalhadores em empregos remunerados em peso ultrapassou 30% em várias empresas de tecnologia no ano passado.
Para conter o desgaste, o MercadoLibre, com mais de 10.000 funcionários na Argentina, é uma das muitas empresas que paga pelo menos parte dos salários em dólar e a outra parte em peso. A gigante de consultoria Accenture, a empresa de software Globant e a fintech Uala começaram a implementar políticas salariais semelhantes, de acordo com comunicados corporativos, funcionários e reportagens da mídia local.
“Esse benefício é concedido a funcionários que são muito procurados por empresas locais, bem como por organizações que não operam na Argentina, mas que contratam os melhores talentos oferecendo salários em contas bancárias estrangeiras”, disse a Uala em resposta a perguntas. A fintech oferece entre 10% a 40% dos salários em dólar, dependendo do cargo, e os bônus de desempenho também são em dólares, disse.
A MercadoLibre e a Accenture não responderam a pedidos de comentário. A Globant não quis comentar – no início deste mês, o CEO da empresa disse em entrevista que os problemas econômicos do país contribuem para uma fuga de talentos.
O caso de amor dos argentinos com dólar começou há décadas, depois de uma interminável série de crises, desvalorizações e espirais de inflação. E as pessoas há muito tempo mantêm dinheiro em contas-poupança em dólares, e o país costuma ser classificado entre os maiores importadores de notas de dólar. Compras caras, como casas e carros usados também são quase inteiramente feitas na moeda americana.
Mas o que mudou agora é a quantidade de transacções e setores que estão adotando o dólar.
Em Buenos Aires, mais de 60% dos anúncios de apartamentos para alugar são agora cotados na moeda americana, segundo o site imobiliário ZonaProp. Há dois anos, esse número era de 20%. E outro dia, a equipe do Roux, um bistrô no bairro nobre de Recoleta, que serve ostras cruas, caviar e carne argentina, trocou alguns preços do cardápio por preços em dólar, algo raramente, ou nunca, visto antes.
“A Argentina já está dolarizada”, disse Emilio Ocampo, um economista que trabalha com Milei, em entrevista à Bloomberg em junho. É a forma como as pessoas passaram a se proteger do “imposto” da inflação, disse ele. Se o plano de dolarização de Milei for transformado em lei, será porque o país “basicamente não tem outra opção”.
por Azul Cibils Blaquier e Patrick Gillespie / Bloomberg
BUENOS AIRES - A confiança no peso argentino caiu para novos patamares nesta quarta-feira, com a moeda chegando a 780 pesos por dólar no popular mercado negro, no qual os poupadores estão dispostos a pagar mais do que duas vezes a taxa oficial, agora fixada em 350 pesos por dólar.
O peso, em dificuldades há muito tempo e administrado por controles de capitais há anos, despencou esta semana após um resultado chocante nas eleições primárias levantar a possibilidade de que um economista libertário radical vença a eleição presidencial de outubro. As famílias correram para converter seus pesos em dólares, em busca de uma forma mais estável de proteger suas economias.
Na segunda-feira, o banco central desvalorizou a taxa de câmbio oficial em cerca de 18% e elevou a taxa básica de juros para 118% para proteger o peso e conter a inflação, que já está em mais de 113%, espremendo a poupança e os salários da população.
“A demanda por dólares continua sustentada, com as pessoas procurando se proteger e cada vez mais preocupadas com a aceleração da inflação após a desvalorização”, disse o economista Gustavo Ber, citando um “clima de incerteza política e econômica”.
A eleição primária de domingo terminou com o outsider Javier Milei, que prometeu dolarizar a economia e eventualmente acabar com o banco central, com a maior parcela de votos. O candidato enfrentará uma disputa em três vias na eleição geral de 22 de outubro.
Com o peso caindo, o governo tentou estabilizar a moeda local, reduzindo acesso a alguns mercados paralelos de câmbio, fechando o cerco em torno de negociantes informais de moedas nas esquinas e começando a discutir um teto para o preço da carne para conter a inflação.
O analista Salvador Vitelli, no entanto, disse que, apesar das novas medidas, mais uma desvalorização é esperada, mesmo depois de o banco central fixar a taxa de câmbio oficial em 350 pesos por dólar até a eleição.
“O mercado não parece acreditar que eles serão capazes de manter essa taxa de câmbio até outubro”, disse.
Os preços futuros do peso no atacado, um reflexo das expectativas sobre a provável trajetória do seu valor, mostram 460 pesos por dólar para outubro, 629 até o fim do ano e 890 até julho de 2024.
Milei, que recebeu 30% dos votos em eleições primárias abertas no domingo, enfrentará o bloco conservador de oposição de Patricia Bullrich, que ficou em 28%, e a coalizão peronista liderada pelo ministrado da Economia, Sergio Massa, que recebeu 27%.
Analistas veem uma inclinação a uma política econômica mais rígida, independente de quem vencer, embora qualquer novo presidente precise lidar com grandes desafios para estabilizar a economia, em meio a inflação de três dígitos, reservas escassas e um frágil acordo de empréstimo de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.
A promessa de dolarização de Milei, alguns acrescentaram, também estava levando mais pessoas a se livrarem de seus pesos, embora seja muito difícil de ser aplicada no curto prazo.
Reportagem de Walter Bianchi, Jorge Otaola e Lucinda Elliott / REUTERS
ARGENTINA - O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, afirmou que agirá com rigor contra o mercado paralelo de dólar. "Parecia que estava caindo, mas depois reapareceram os mesmos bandidos que estavam brincando", disse o ministro em evento com sindicalistas na última terça-feira (8), segundo informações do jornal Clarín.
Pré-candidato à presidência, Massa ameaçou os especuladores em seguida. "Amanhã (quarta-feira), vamos fazer com que eles sintam o rigor com todos os instrumentos que a UIF (Unidade de Investigação Financeira tem", afirmou. O ministro não especificou quais seriam essas medidas.
Porém, na quarta-feira (8), a cotação no mercado paralelo chegou a 598 pesos para um dólar, um valor recorde e que representa uma desvalorização de 17,5% da moeda argentina em um mês.
Um sistema de controle de divisas vigora na Argentina desde 2019, e diversas taxas de câmbio funcionam paralelamente à oficial, que fechou a 297,82 pesos por dólar na quarta-feira.
Embora o mercado do chamado "dólar blue" seja considerado pequeno, sua cotação reflete as expectativas do mercado, em um país que enfrenta uma inflação de 115% ao ano.
Os argentinos apostam historicamente no dólar para se protegerem da desvalorização de sua moeda, comportamento que ganha força às vésperas de processos eleitorais, que será realizada no domingo (13).
Há meses, as reservas internacionais diminuem a cada dia. Na terça-feira, fecharam em US$ 24,1 bilhões, segundo o Banco Central do país. Analistas econômicos, no entanto, estimam que as de livre disponibilidade se encontrem praticamente em zero.
por FERNANDO NARAZAKI / FOLHA de S.PAULO
BUENOS AIRES - Está na boca do povo, mas nem tanto na boca dos que querem governá-lo. A inflação que corrói diariamente o salário dos argentinos e aumenta as filas da pobreza é um tema do qual os principais candidatos à Presidência do país têm procurado se esquivar a dez dias das eleições primárias.
Discussões mais profundas sobre o problema, que exigiria medidas impopulares, têm ficado para depois na agenda dos postulantes. Em vez disso, eles têm escolhido priorizar pautas possivelmente mais frutíferas em termos de votos, como segurança pública e geração de empregos.
Nas ruas, porém, o aumento dos preços é o primeiro motivo de angústia de eleitores de qualquer preferência política ou região, indicam diferentes pesquisas. Levantamento de julho da Universidade de San Andrés aponta que 55% dos argentinos veem a inflação como maior obstáculo da Argentina. A insegurança aparece em segundo lugar, mencionada por 38% da população.
"Antes dava para fazer um assado [churrasco] nos finais de semana, agora o dinheiro não é suficiente", reclama o zelador Miguel García, 56, na porta do prédio de um bairro abastado de Buenos Aires. E o que os candidatos pretendem fazer sobre isso? Ele dá de ombros: "Não sei, eles só prometem e nunca cumprem".
Do lado do peronismo, Sergio Massa tem evitado ao máximo o tema, já que é ministro da Economia há mais de um ano e até aqui não conseguiu frear a desvalorização do peso. Na oposição à direita, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, e a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich que disputam uma vaga no primeiro turno repetem o mantra de baixar gastos, mas não detalham como.
"Nenhuma das duas maiores coalizões tem condições de tratar do tema como vantagem, porque ambas duplicaram a inflação em seus governos", diz Artemio López, diretor da consultora Equis, referindo-se às gestões do republicano Maurício Macri (2015-2019) e do atual presidente, o peronista Alberto Fernández.
A exceção é o ultraliberal Javier Milei, que usa o mal-estar econômico do país como principal trampolim político, mas tampouco expõe planos consistentes para sua proposta de dolarização da Argentina, segundo analistas. "É o tema em que Milei pode se apoiar mais, mas ele não consegue afiançar um projeto de governo, propõe intervenções em temas pontuais", diz López.
As primárias na Argentina, chamadas de Paso (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), normalmente são encaradas como uma grande pesquisa nacional para o primeiro turno, em 22 outubro. Desta vez, porém, elas também podem mudar o rumo das eleições, a depender de quem ganhar na coalizão opositora Juntos por el Cambio. Larreta é mais de centro, e Bullrich vai mais à direita.
Até agora, o cenário é de grande incerteza, com sondagens mostrando uma disputa acirrada entre os dois, que registram algo próximo a 15% das intenções de voto. Juntos, eles somam cerca de um terço dos eleitores, enquanto a coligação peronista União pela Pátria segue colada atrás. Milei perdeu fôlego no último mês e registra cifras que vão de 12% a 20%, a depender do levantamento.
Há ainda uma parcela importante da população que não decidiu seu candidato, como o zelador Miguel, ou pretende votar em branco ou nulo. O sentimento de "estou farto" e a desilusão com a política é uma marca desse pleito, após sucessivos governos não conseguirem conter a escalada inflacionária e evitar a terceira grande crise econômica do país em 40 anos de democracia.
Os preços subiram 116% nos últimos 12 meses, considerando o índice acumulado até junho a segunda maior cifra da América Latina, atrás apenas da Venezuela. Algumas das causas apontadas são um déficit insistente, alta dívida externa, moeda sem credibilidade e falta de dólares nos cofres públicos. Quatro em cada dez argentinos estão abaixo da linha da pobreza.
"As soluções passam por eliminar subsídios, cortar serviços públicos e outras medidas antipáticas numa campanha eleitoral, por isso os candidatos se esquivam, apesar de todos terem estudos sobre o caminho que pretendem tomar", afirma o economista Juan Telechea, diretor do ITE (Instituto de Trabalho e Economia da Fundação Germán Abdala).
O ministro Sergio Massa, por exemplo, tem concentrado seus discursos na indústria nacional, e sempre se posta ao lado de trabalhadores: "Estão em jogo dois modelos de país, um que aposta na produção nacional, no emprego genuíno e na venda do trabalho argentino para o mundo, e outro que busca apenas a especulação financeira", declarou num comício esta semana.
Já Horacio Larreta aposta na sua experiência na gestão da capital Buenos Aires para dizer que "vamos fazer porque já fizemos". Usando canções esperançosas ou heroicas, é um dos que mais lista propostas econômicas, falando em controle de gastos, redução de impostos e impulsionamento de exportações, mas sem entrar em detalhes.
Ele defende medidas mais conservadoras na área da segurança, assim como Patricia Bullrich. A ex-ministra de Macri fala em "colocar ordem" no país e estimula a polarização com o peronismo. Nas finanças, também defende o fim do limite à compra de dólares e um Banco Central independente, mas recentemente foi alvo de piadas por declarações em que mostrou desconhecimento na área.
A campanha de Milei, por sua vez, destoa do tom morno dos outros candidatos. Ao som de rock, vestindo jaqueta de couro e sempre rodeado de uma multidão de jovens, o libertário fala em acabar com o Banco Central e enxugar radicalmente o Estado contra a corrupção. Seu slogan, sempre em letras garrafais, é um pouco mais direto: "Viva a liberdade, caralho".
por JÚLIA BARBON / FOLHA de S.PAULO
ARGENTINA - O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou, na sexta-feira (28), que a sua equipe técnica chegou a um acordo com o governo argentino sobre a quinta e sexta revisão do pacote de ajuda ao país sul-americano, o que abre caminho para o desembolso de 7,5 bilhões de dólares (35,3 bilhões de reais, na cotação atual).
Desde 31 de março, quando a quarta revisão foi finalizada, “a situação econômica da Argentina tornou-se muito desafiadora” e “os principais objetivos do programa até o final de junho não foram alcançados devido ao impacto maior do que o esperado da seca, assim como aos desvios e atrasos nas políticas”, alerta o fundo.
O acordo “dará à Argentina acesso a cerca de US$ 7,5 bilhões”, mas está sujeito à aplicação das medidas acordadas pelo governo e à aprovação do conselho de administração, que se reunirá na segunda quinzena de agosto, informou em comunicado.
“Foi acordado um pacote de políticas com um conjunto sequencial de medidas para reconstruir as reservas e melhorar a sustentabilidade fiscal, protegendo a infraestrutura crítica e os gastos sociais”, detalha a organização financeira após semanas de negociações.
A situação da economia argentina é preocupante, com inflação anual superior a 110% e pobreza de 40%, segundo o instituto oficial de estatísticas Indec.
Além disso, o governo do presidente Alberto Fernández estimou que a perda global devido à seca na Argentina será de cerca de 20 bilhões de dólares (94,3 bilhões de reais na cotação atual) este ano, quase 3% do Produto Interno Bruto.
ARGENTINA - Após um comunicado do FMI (Fundo Monetário Internacional) mais cedo no domingo (23), de que espera chegar um acordo com a Argentina, o Ministério da Economia do país deve implementar nas próximas horas um pacote de medidas tratadas com o Fundo, com uma desvalorização parcial do câmbio.
De acordo com a imprensa do país vizinho, o governo vai aumentar o valor para a compra de dólares (o "dólar ahorro" ou "dólar poupança", que os argentinos podem comprar legalmente), com unificação do chamado "dólar tarjeta" (em que as despesas em pesos são convertidas pelo banco central do país junto à operadora de cartão em câmbio próximo ao paralelo, ou "blue"), com limite de US$ 300 (R$ 1.430) mensais.
Em média, 900 mil pessoas compram US$ 150 (R$ 716) por mês. Ambos serão unificados em 30% de imposto País (sigla para Por uma Argentina Inclusiva e Solidária) mais 45% de lucro presumido.
O "dólar Qatar" (turismo) segue valendo para as compras que ultrapassam os US$ 300 mensais. As medidas começam a valer a partir desta segunda-feira (24).
O FMI exige do governo argentino uma desvalorização do dólar para evitar um calote. O ministro da Economia, Sergio Massa, e a vice-presidente, Cristina Kirchner, se recusam a subir bruscamente a taxa de câmbio oficial por medo de uma espiral da inflação.
O governo também vai aumentar o valor do dólar para exportações de cultivos de grãos, como o milho. A pasta espera somar US$ 2 bilhões (R$ 9,5 bilhões) em exportações com o dólar agro e, paralelamente, aumentar a arrecadação de impostos que havia sido impactada pela grave crise que o país enfrenta.
O "dólar agro" passa de 300 pesos argentinos para 340 pesos, para as exportações que forem liquidadas até 31 de agosto de 2023.
A Argentina também modificará as regras de imposto País pelo uso de dólares de um grupo de importações.
Vai ser generalizada uma taxa de 25% do País para praticamente todos os serviços, com alguns itens que terão particularidades. A compra de bens no exterior, por exemplo, terá um imposto País de 7,5%, o mesmo estimado para os serviços de frete. Setores como educação e saúde ficarão isentos.
Para a compra de importados, fica generalizado o pagamento de 7,5% de imposto. As importações vinculadas aos combustíveis, lubrificantes e as importações vinculadas à cesta básica não pagarão o imposto. Os bancos, para bens e serviços, atuarão como agentes arrecadadores desse tributo.
Segundo o jornal Clarín, as medidas não devem poupar a Área Aduaneira Especial da Terra do Fogo, o que deve deixar os produtos eletrônicos mais caros.
A aplicação desse pacote fiscal, segundo os jornais argentinos, deve proporcionar uma arrecadação adicional próxima a 1,3 trilhão de pesos, o equivalente a 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
"Para a Argentina é um tema a resolver, o melhor que temos a fazer é ter nosso próprio programa exportador, nosso regime de consolidação de reservas. A Argentina precisa ter um desenho de sua política econômica para, em longo prazo, ter um domínio de sua política de desenvolvimento e da política econômica", disse o ministro da Economia, Sergio Massa, na noite deste domingo, em entrevista ao canal argentino C5N.
Massa ressaltou que o acordo alcançado retira até o fim do ano, a discussão do FMI. O ministro disse que não haverá novas revisões com o órgão até o fim de novembro, quando o calendário eleitoral terminar e houver um presidente eleito. "Isso vai nos dar a possibilidade de que aquele vizinho que temos no bairro, que é o Fundo, que o [ex-presidente Mauricio] Macri trouxe para cá, não seja um fator na campanha."
O ministro disse que o peronismo deve fazer uma autocrítica, ao comparar os últimos anos de "vacas gordas" com o período de seca mais recente, que afetou o agronegócio. "Temos de fazer uma autocrítica, e aprender a revisar nossos próprios erros, pedir perdão. Assim como tivemos 36 meses de criação de empregos, também temos de aprender com os erros e seguir adiante."
Segundo Massa, o dólar agro vai ser um ajuste necessário, pois é preciso melhorar as exportações para aumentar as reservas. "Isso impacta em 14023 economias regionais em culturas, como arroz e tabaco. Neste caso, o complexo da soja não foi incluído, por estarmos fora do período de colheita."
Massa, é a principal aposta do peronismo para se manter na Casa Rosada após as eleições deste ano.
Com outros favoritos da oposição conservadora e da extrema-direita, a decisão significa que o próximo presidente da Argentina, a ser escolhido nas eleições de outubro, provavelmente será mais favorável ao mercado, um impulso para investidores duramente atingidos no país endividado.
"O mercado local pode ver com bons olhos que o cenário eleitoral agora tem candidatos presidenciais moderados, pró-mercado e que conhecem os investidores", disse à Reuters Javier Timerman, do Adcap Grupo Financiero, alertando que muitos ainda têm dúvidas.
A Argentina luta contra uma inflação de mais de 100% e uma moeda fraca, o peso argentino, que perdeu cerca de 25% de seu valor em relação ao dólar neste ano, apesar dos rígidos controles de capital que retardam sua queda.
Mais cedo, o FMI havia sinalizado positivamente com uma revisão dos termos de um empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 210 bilhões, em valores atuais) que o país sul-americano tem com a entidade.
"As equipes do Ministério da Economia e do Banco Central da Argentina e o staff do FMI concluíram os aspectos centrais do trabalho técnico da próxima revisão", disse o FMI no Twitter.
O país sul-americano deve pagar ao FMI cerca de US$ 3,4 bilhões (R$ 16,2 bilhões) entre 31 de julho e 1º de agosto, em um momento em que as reservas líquidas do BCRA (Banco Central Argentino) estão no vermelho em cerca de US$ 6,5 bilhões (R$ 31 bilhões).
por DOUGLAS GAVRAS / FOLHA de S.PAULO
BUENOS AIRES - A corrida eleitoral na Argentina está se estreitando em uma disputa de dois concorrentes, antes das eleições primárias de 13 de agosto, com a escolha de um candidato de centro pela coalizão peronista governista neutralizando parte da ameaça do libertário de extrema direita Javier Milei.
As pesquisas mostram os dois principais candidatos do bloco de oposição conservadora, a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich e o prefeito de Buenos Aires Horacio Larreta, logo à frente do candidato da coalizão governista, o ministro da Economia, Sergio Massa.
Isso comprimiu Milei, um economista de extrema direita que prometeu dolarizar a economia e fechar o banco central, buscando explorar a raiva do eleitor com inflação acima de 100%, reservas em moeda estrangeira secando e 40% de pobreza.
"Estamos vendo uma tendência constante, embora gradual, de se tornar uma corrida polarizada entre as duas principais coalizões", disse Marina Acosta, da empresa de pesquisas Analogias.
A pesquisa de 28 a 30 de junho com 2.569 entrevistados mostrou que 32,7% dos eleitores apoiam Bullrich-Larreta juntos, 28,3% apoiam Massa e 4% o candidato peronista Juan Grabois. O partido de Milei tem 17,8%, e 12,7% ainda estão indecisos.
“A parcela de indecisos diminuiu e o espaço ocupado pela ultradireita encolheu”, disse Acosta.
Os mercados e investidores da Argentina saudaram a candidatura de Massa, um pragmático moderado dentro do bloco peronista, o que afastou a facção mais esquerdista da coalizão.
Mas Massa enfrenta uma batalha difícil contra os conservadores nas eleições de outubro, que irão para o segundo turno se nenhum candidato conseguir mais de 50%. O bloco de oposição escolherá entre Bullrich e Larreta nas primárias de agosto.
Por Nicolás Misculin / REUTERS
LEÓN - Por apenas um ponto de diferença, a seleção brasileira feminina de basquete bateu a Argentina na segunda-feira (3), em León (México). Com o triunfo por 56 a 55, o terceiro seguido, a equipe comandada pelo técnico José Neto segue na liderança do Grupo A, que tem ainda Cuba e Venezuela - ambas já derrotadas pelo Brasil. O último adversario do país na fase classificatória será os Estados Unidos, em duelo a partir das 17h40 (horário de Brasília) desta terça-feira (4), Além do título inédito na competição, as brasileiras buscam a vaga nos Jogos de Paris - as equipes finalistas garantem presença na Olimpíada.
Do lado brasileiro, as maiores pontuadoras foram Damiris e Aline Moura, que anotaram sete pontos cada uma. A seleçao dominou a partida nos três primeiros quartos e mandava no placar no último deles, por 52 a 41, quando as hermanas despertaram no jogo, lideradas pela experiente pivô Andrea Boquete, que sozinha marcou nove pontos.
A apenas 45 segundos do fim, as argentinas viram o placar para 55 a 54, após Sassá cometer uma falta no garrafão. Apesar do nervosismo, o Brasil conseguiu virar com Emanuely, a sete segundos do apito final, em cobrança de dois lances livres.
O Brasil estreou na sexta (30) com vitória sobre Cuba (92 a 536) e no domingo (2) também levou a melhor sobre a Venezuela por (90 a 76). A AmeriCupW reúne ao todo 10 seleções, divididas em duas chaves. O Brasil está na Chave A (junto com Cuba, Venezuela, Argentina e Estados Unidos) e o Grupo B tem Canadá, República Dominicana, Colômbia, México e Porto Rico.
Na primeira rodada classificatória - o último jogo do Brasil é nesta terça (4) - seleções competem entre si, dentro dos próprios grupos. As quatro melhores avançam às quartas de final (1A x 4B, 2A x 3B, 3A x 2B, 4A x 1B), programadas para 7 de julho. Quem se classificar disputará as semifinais no dia 8 e a decisão do título será no dia 9 de julho.
A Olimpíada reunirá apenas 12 seleções femininas. Duas vagas já estão definidas: uma dos Estados Unidos, campeão da Copa do Mundo de 2022, e outra da França por ser o país-sede. As demais vagas serão distribuídas nos torneios classificatórios continentais. Haverá dois torneios de quatro equipes tanto na Ásia, quanto nas Américas, e um de seis equipes na África. Os campeões e os vices de cada competição se garantem nos Pré-Olímpicos.
Ao todo os Pré-Olímpicos reunirão 16 seleções de todos os continentes. Serão quatro torneios com quatro países cada. Ao final, as três melhores arrematam as últimas vagas para Paris.
Este site utiliza cookies para proporcionar aos usuários uma melhor experiência de navegação.
Ao aceitar e continuar com a navegação, consideraremos que você concorda com esta utilização nos termos de nossa Política de Privacidade.